Qual a razão pela qual o Brasil não possui um sistema de GPS próprio?
A dependência de tecnologias de outros países representa um problema estratégico; é imprescindível investir em soberania digital para assegurar a autono…

Em meio a tensões geopolíticas, guerra cibernética e a busca por soberania digital, uma questão se intensifica entre especialistas e estrategistas: por que o Brasil, uma das maiores economias do mundo, ainda não possui seu próprio sistema de navegação por satélite?
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Qual é um sistema de GPS?
O GPS é um nome comum para o Sistema de Posicionamento Global, desenvolvido e mantido pelo Departamento de Defesa norte-americano desde a década de 1970. Ele compõe uma categoria maior, conhecida como GNSS (Sistema de Navegação por Satélite Global), que engloba:
Nenhuma nação do mundo desenvolveu seu próprio sistema de navegação por satélite sem um forte apoio à ciência e à produção de conhecimento local. Atualmente, o Brasil possui cerca de 888 pesquisadores em tempo integral por milhão de habitantes, segundo dados do Global Innovation Index de 2014. Em contraste, países como Alemanha têm aproximadamente 4.300 pesquisadores por milhão de habitantes, enquanto a Coreia do Sul alcança 6.457 e os Estados Unidos contam com cerca de 4.825 pesquisadores por milhão (em 2021).
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E o Brasil, por quê ainda não?
O Brasil já desenvolveu iniciativas para sistemas espaciais, incluindo o SISNAV (Sistema de Navegação por Satélite), sugerido pela Aeronáutica na década de 2000, e a colaboração com a China no programa CBERS (satélites de sensoriamento remoto). Contudo, não ocorreu a manutenção política ou financeira desses projetos, devido a mudanças de governo, reduções de recursos e ausência de integração entre os ministérios, as Forças Armadas e as universidades.
Preço elevado
Para desenvolver um sistema de navegação global, seriam necessários:
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O desenvolvimento e a operação de um sistema como o GPS demandam entre 10 e 15 bilhões de dólares, além dos custos de atualização contínua.
Baixa percepção de risco
Diferentemente dos Estados Unidos, China ou Rússia, o Brasil não teve participação em grandes conflitos armados globais e, por isso, nunca considerou a interrupção do GPS como uma ameaça concreta. Contudo, com a crescente militarização do espaço e disputas econômicas – como as atuais tensões entre Brasil e EUA –, essa percepção está mudando.
Pesquisa, inovação e soberania digital convergem.
Desenvolver um sistema de GPS próprio não se resume a lançar satélites, mas sim a construir uma base científica e tecnológica nacional, o que envolve:
Qual a relevância disso?
Se os Estados Unidos decidissem reduzir ou restringir o sinal do GPS para o Brasil, mesmo que temporariamente, os efeitos seriam significativos:
O Brasil o que poderia realizar?
O Brasil não precisa competir com os Estados Unidos ou a China, mas pode desenvolver um sistema regional sul-americano com abrangência local. Isso já aumentaria a segurança, auxiliaria na defesa, no agronegócio e nas telecomunicações.
Reforçar o Programa Espacial Brasileiro
A Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) possuem competência técnica, necessitando de orçamento, planejamento de longo prazo e incentivo à pesquisa científica.
Incorporar-se de forma mais abrangente a sistemas como Galileo (UE) ou BeiDou (China).
A utilização variada de sistemas de navegação por satélite eleva a robustez. O Brasil pode firmar parcerias estratégicas com outras nações, assegurando o acesso a informações, espectros e colaboração tecnológica.
A soberania digital no século XXI também é multifacetada.
Atualmente, a soberania digital de um país não se define apenas por seu exército, moeda ou território físico, mas também pela capacidade de operar tecnologias cruciais. Satélites, posicionamento global e autonomia espacial são elementos-chave dessa nova geopolítica. Além disso, a verdadeira independência reside na base: pesquisa, educação, patentes e profissionais brasileiros em prol do futuro do país. Se o Brasil almeja ser um ator global, não pode persistir na dependência de sistemas externos para determinar sua localização.
Fonte por: Jovem Pan