Qual é o motivo pelo qual alguns vinhos são tão caros — e o que os torna reconhecidos em todo o mundo?
Envolve uma mistura de tradição, características do solo, estratégias de divulgação, raridade e reputação estabelecida ao longo do tempo.

No mundo do vinho, poucos rótulos atingem o status de lenda. São reverenciados, disputados em leilões e, frequentemente, alcançam preços que se aproximam do absurdo. O que justifica esses valores elevados envolve uma combinação de história, terroir, marketing, escassez e prestígio construído ao longo do tempo. Analisaremos cinco desses ícones: Opus One, Almaviva, Romanée-Conti, Dom Pérignon e Brunello di Montalcino Biondi Santi.
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Nascido em 1979, fruto da colaboração entre Robert Mondavi e o Barão Philippe de Rothschild (da Château Mouton Rothschild), o Opus One foi concebido como o primeiro vinho californiano com a alma e a exigência do Bordeaux. Produzido no Vale do Napa, ele representa a união entre o Velho e o Novo Mundo, e logo alcançou o status de vinho de prestígio.
A vinícola investe em uma apresentação impecável, produção limitada e um posicionamento de luxo, o que contribui para o preço elevado. Apesar de ser um excelente Cabernet Sauvignon com elegância e estrutura, muitos especialistas o consideram supervalorizado em comparação com vinhos de qualidade semelhante ou superior da Califórnia.
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O Almaviva, resultado da parceria entre a Concha y Toro e o Baron Philippe de Rothschild, é um dos vinhos mais ambiciosos da América do Sul. Lançado em 1998, ele combina a tradição bordalesa com o terroir do Vale do Maipo.
O seu valor de mercado, elevado em relação aos padrões latino-americanos, é mantido pela marca, pelo rigor técnico e pela associação com o luxo europeu. O vinho é, sem dúvida, de altíssima qualidade, mas o custo é inflacionado por sua posição simbólica no mercado – como se o Chile quisesse provar, com ele, que pode competir com os grandes crus franceses.
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Nenhum outro vinho representa tanta exclusividade quanto o Romanée-Conti, da Domaine de la Romanée-Conti (DRC). Produzido a partir de um pequeno vinhedo de 1,8 hectare na Borgonha, sua produção anual não excede as 5 mil garrafas.
O terroir, a direção das videiras, a maturidade das plantas, a aplicação de técnicas biodinâmicas e a meticulosa atenção aos detalhes conferem a este Pinot Noir uma elegância excepcional. Contudo, seu preço – que frequentemente excede os R$ 20 mil por garrafa – é influenciado por elementos intangíveis: escassez, reputação e distinção. Representa um ícone autêntico, porém seu custo atual excede a experiência sensorial.
Batizado em referência ao monge beneditino que (supostamente) criou o Champagne, o Dom Pérignon é símbolo de celebração e luxo desde o século XX. Elaborado pela Moët & Chandon somente em vindimas consideradas excepcionais, ele une Chardonnay e Pinot Noir em um estilo requintado e de longa duração.
Apesar de tecnicamente impecável e consistentemente excelente, o Dom Pérignon é produzido em grandes volumes – estima-se mais de 5 milhões de garrafas por safra. Seu preço elevado se deve, em grande parte, ao poder da marca, ao marketing e à aura mística construída em torno de seu nome.
Ferruccio Biondi Santi sustentava o legado, ao isolar uma variedade singular de Sangiovese no século XIX, visando produzir um vinho de envelhecimento prolongado, complexo e intenso, dando origem ao Brunello di Montalcino.
A Tenuta Greppo, local da vinícola, utiliza métodos tradicionais e produção controlada. O nome Biondi Santi tornou-se sinônimo de autenticidade e resistência ao mercado. No entanto, apesar da qualidade e da linhagem, seu preço se distancia da relação custo-benefício — principalmente quando comparado a outros Brunelli de grande qualidade no mercado.
Não há dúvida de que Opus One, Almaviva, Romané-Conti, Dom Pérignon e Biondi Santi são vinhos excepcionais, cada um à sua maneira. Eles representam o ápice de suas regiões, contam histórias únicas e carregam consigo o peso do tempo, do cuidado e da reputação.
No entanto, o preço pago por eles atualmente é, em grande parte, sustentado por fatores externos ao vinho: marketing, status, escassez artificial e desejo de ostentação. Existem, no mundo, inúmeros vinhos extraordinários – alguns até mais complexos e emocionantes – por uma fração do valor.
A realidade é que esses símbolos, ainda que notáveis, não justificam seu valor quando avaliados apenas pela experiência que oferecem. O requinte, nesse caso, exige um custo elevado, frequentemente acima do esperado.
Fonte por: Jovem Pan