Raio-X financeiro: como a máfia da anestesia encarece a saúde no Distrito Federal
28/04/2025 às 8h59

Em operações hospitalares no Distrito Federal, uma estrutura financeira sólida assegura a continuidade de um domínio silencioso e prejudicial: o da anestesiologia. Com controle quase total do mercado, a cooperativa que lidera o setor estabelece uma lógica de preços elevados, concentrando lucros em poucos sócios e elevando o custo final para hospitais, planos de saúde e, por fim, para a população em geral.
O processo de utilização da engrenagem envolve uma tabela de preços específica para procedimentos anestésicos, que em diversos casos apresenta valores até sete vezes superiores aos praticados por referências tradicionais do mercado. Hospitais e planos de saúde são compelidos a aceitar essas condições para assegurar o atendimento.
As investigações revelaram que o modelo financeiro é caracterizado por uma distribuição desigual: a cooperativa recebe uma taxa administrativa e repassa o restante aos grupos de anestesia. Dentre esses grupos, a maior parte do faturamento é concentrada em poucos sócios, e os anestesistas que realizam a maioria dos procedimentos recebem valores fixos baixos, desproporcionais ao volume de trabalho.
Um hospital de grande porte na capital demonstra essa lógica. Com seis salas de cirurgia em funcionamento, o grupo de anestesiologia que ali operava movimentava aproximadamente R$ 1,2 milhão por mês.
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Contudo, os responsáveis pelos plantios recebiam salários fixos que, mesmo nos valores mais elevados, constituíam apenas uma pequena parcela da receita total, sendo o restante distribuído entre os sócios majoritários.
Com base nos resultados da investigação, a consequência direta desse modelo é o aumento significativo dos custos dos planos de saúde, que são repassados aos consumidores por meio de mensalidades mais elevadas.
A questão se estende além do setor privado, visto que hospitais públicos têm dificuldades para contratar anestesistas, devido aos preços cobrados pela cooperativa, que excedem as condições estabelecidas em editais públicos.
Em um hospital público especializado em atendimento infantil, licitações para a contratação de anestesistas foram desconsideradas, impedindo a realização de cirurgias. Na rede pública do Distrito Federal, centenas de procedimentos ficaram atrasados devido aos valores cobrados excederem o orçamento do sistema.
Fonte: Metrópoles