Recompensa de 60 milhões de dólares: entenda a presença do Hezbollah no Brasil

O Departamento de Estado dos Estados Unidos oferece uma recompensa de cerca de 60 milhões de reais por informações que comprometam financeiramente o grupo.

20/05/2025 9h10

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(Imagem de reprodução da internet).

A crescente atenção sobre a presença e as ações do Hezbollah na América Latina, e particularmente no Brasil, tem se intensificado devido a comunicados oficiais e apurações recentes.

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O Departamento de Estado dos Estados Unidos, por meio do programa Rewards for Justice (RFJ), oferece uma recompensa de quase R$ 60 milhões por informações que contribuam para a interrupção dos mecanismos financeiros do Hezbollah, buscando dados sobre as redes da organização na região da Tríplice Fronteira, que compreende Argentina, Brasil e Paraguai.

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A oferta de recompensa dos EUA busca identificar e eliminar fontes de financiamento, canais de facilitação financeira, doadores, intermediários, instituições financeiras ou casas de câmbio que auxiliem transações do grupo, empresas ou investimentos controlados por eles, empresas de fachada para aquisição de tecnologia de uso duplo, e esquemas criminosos que beneficiem financeiramente o Hezbollah.

As investigações dos EUA indicam que, na Tríplice Fronteira, financiadores e colaboradores do Hezbollah obtêm recursos por meio de várias atividades ilegais, incluindo lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, contrabando (como carvão, petróleo, diamantes, dinheiro em espécie, cigarros e produtos de luxo), falsificação de documentos e falsificação de dólares americanos.

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Adicionalmente, a empresa alcança receitas provenientes de atividades comerciais em toda a América Latina, incluindo construção civil, importação e exportação, e vendas de imóveis.

Declaração argentina

A ministra de Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, intensificou as suspeitas ao declarar em outubro de 2024 que o libanês Hussein Ahmad Karaki é o líder das operações do Hezbollah na América Latina e que ele recrutou indivíduos no Brasil.

Entre 1990 e 1991, Karaki esteve no Brasil, Paraguai e Argentina. Ele entrou na Argentina em 1992 com documento colombiano, adquiriu o veículo-bomba empregado no ataque à embaixada israelense em Buenos Aires no mesmo ano, utilizando um documento de identidade brasileiro falso.

A ministra afirma que Karaki também recrutou Hussein Suleiman no Brasil na década de 1990 para o contrabando de explosivos. Após o atentado de 1992, Karaki teria fugido para Foz do Iguaçu e, a partir de então, estabeleceu relações com organizações criminosas brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).

Essa relação, que começou com foco em ataques diretos, transformou-se em uma forma de conexão para “recrutamento”. Bullrich citou a Operação Trapiche da Polícia Federal brasileira, instaurada em 2023 para prevenir atos terroristas, no âmbito dessa relação.

Investigações pela Polícia Federal

As investigações da Polícia Federal (PF) no Brasil também apontam para atividades de recrutamento vinculadas ao grupo. A PF concluiu que dois sírios naturalizados brasileiros, Mohamed Khir Abdulmajid e Lucas Passos Lima, foram responsáveis pelo recrutamento de três brasileiros para possíveis ataques terroristas.

De acordo com a Divisão de Enfrentamento ao Terrorismo da PF, esses brasileiros foram levados ao Líbano, sede do Hezbollah, para negociações, com passagens e hospedagem custeadas, e receberam dinheiro e presentes de alto valor.

Um dos recrutados, um músico carioca, afirmou ter recebido a oferta de 100 mil dólares (aproximadamente 550 mil reais) para realizar assassinatos no Líbano, sendo indagado se pertencia a alguma facção criminosa.

A PF avalia Mohamed Khir Abdulmajid e Lucas Passos Lima como principais responsáveis pela formação de uma rede nacional conectada a um grupo terrorista internacional. Mohamed está foragido pela Difusão Vermelha da Interpol e a PF suspeita que ele se deslocou para o Líbano.

Lucas Lima foi detido ao retornar de Beirute, com 5 mil dólares apreendidos. A investigação iniciou-se após o FBI identificar uma viagem suspeita ao Líbano de um grupo pequeno de pessoas possivelmente envolvidas em atividades criminosas e com potencial ligação a atos terroristas no Brasil.

O Hezbollah é uma organização política e militar libanesa, com forte influência no país. Originalmente formado como um movimento de apoio à resistência contra a ocupação israelense, expandiu sua atuação para

O Hezbollah é uma organização sediada no Líbano que recebe apoio financeiro e militar do Irã, país considerado pelos EUA como Estado patrocinador do terrorismo.

A estimativa aponta para a geração de aproximadamente um bilhão de dólares anualmente, proveniente de apoio direto do Irã, negócios e investimentos internacionais, redes de doadores, corrupção e operações de lavagem de dinheiro.

Na década de 1990, o grupo foi apontado como responsável pelos ataques à embaixada israelense em 1992 e à Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em 1994, que causaram a morte de dezenas de pessoas. Em abril de 2024, juízes argentinos determinaram que o ataque à AMIA foi perpetrado pelo Hezbollah e fazia parte de um “projeto político e estratégico” do Irã.

A oferta de recompensa pelos Estados Unidos suscita dúvidas sobre se o Hezbollah opera ou tenta ampliar sua influência no Brasil e na região da Tríplice Fronteira, por meio de atividades criminosas e tentativas de recrutamento.

Sobre investigações

A CNN contatou a Polícia Federal e o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) para verificar se existem indícios recentes de atuação, operações ou investigações em andamento para combater ou neutralizar ações terroristas do grupo no país.

A Polícia Federal declarou não confirmar nem se pronunciar acerca de eventuais investigações em curso. O Ministério da Justiça ainda não respondeu.

Fonte: CNN Brasil

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