Reunião: a lista de possibilidades é como a aposta mais ousada na Mega-Sena
23/04/2025 às 12h23

A cobertura midiática sobre o assunto é invariável: jornalistas se tornam repentinamente especialistas, apresentando uma lista extensa de possíveis cenários, a maioria deles com baixas probabilidades.
Dessa forma, o objetivo é publicar o maior número possível de nomes, idealmente abrangendo todos os continentes, como uma aposta arrojada na Mega-Sena.
É preciso reiterar o ditado que, em um cúpula, quem entra vulnerável sai cardeal, pois assim, todos se salvam caso seja eleito um nome que não está na lista. Nem sempre o clichê traduz a verdade: em 2005, por exemplo, Joseph Ratzinger era o grande papável e saiu do conclave como Papa Bento XVI.
Já cometi todos esses erros e, por isso, não vou indicar quem considero culpável, com o perdão da pouca referência religiosa dessa expressão em português.
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Resto-me a observar que, considerando o grande número de cardeais que não se conhecem, os italianos nutrem, mais do que nunca, a esperança de ver um compatriota retornar ao Trono de Pedro, após 47 anos de estrangeiros no comando do Vaticano. Acreditam que, caso não ocorra uma revelação durante as reuniões preparatórias, o colégio cardenalício acabará escolhendo um nome de segurança, sem uma eleição surpreendente.
É como acontece: em um cúpula, quem se apresenta vulnerável se torna cardeal.
Em 2005, Joseph Ratzinger encontrava-se em Roma, sendo alvo da revista Veja para cobrir o conclave que escolheria o sucessor de João Paulo II. Em uma conversa com o italiano Giancarlo Zizola, na época vaticanista do jornal Il Sole 24 Ore, foi convidado a participar de um “conclave jornalístico” na residência do então correspondente da revista Time na capital italiana.
Além de Giancarlo Zizola e do anfitrião americano, estávamos eu, um jornalista alemão, uma jornalista francesa e outra argentina, todos de grandes publicações. Sob a condução do vaticanista italiano, trocamos informações sobre os cardeais dos nossos países e algumas apurações que havíamos feito em Roma.
Tinha se estabelecido que Joseph Ratzinger superaria Jorge Mario Bergoglio ou qualquer outro candidato. Era o mais evidente, porém a mídia resistia em admitir que o próximo papa seria outro conservador – e ainda menos que seria o inquisidor, imbatível nas discussões doutrinárias. João Paulo II estendeu a mão para conter o clero vermelho da América Latina e domar a ordem dos jesuítas, que há séculos se comportava como uma Igreja dentro da Igreja, sendo seu chefe conhecido como “Papa Negro”.
Desisti de seguir as notícias da Igreja após a eleição de Francisco. Perdi a admiração, pois Jorge Mario Bergoglio me parecia um caso de Itamar Franco. Contudo, ainda me agrada reler as obras de Giancarlo Zizola, que faleceu em 2011, dois anos antes da renúncia de Bento XVI. Sua cultura era notável e seus livros, excelentes.
Em uma das análises, Giancarlo Zizola, ao abordar o fim do reinado do polonês Karol Wojtyla, argumenta que, em um conclave, a questão que se apresenta aos cardeais não é apenas a de “qual papa para qual Igreja?”, mas também a “qual papa para qual mundo?”. Raramente, contudo, o nome escolhido se mostra adequado para a resposta correta, mesmo com os esforços do Espírito Santo.
Fonte: Metrópoles