Revisão da licença-maternidade para pais é novamente debatida no Congresso
Pais com diversas configurações familiares compartilham os prazeres e desafios da paternidade.

Após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a Câmara dos Deputados retomará a discussão, em caráter de urgência, da proposta de ampliação da licença paternidade de 5 para 15 dias. O projeto, já aprovado no Senado Federal, tramita no Congresso há 17 anos.
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Com o retorno do período de recesso parlamentar, espera-se que o assunto retorne aos debates na Câmara Legislativa ainda em agosto, mês do dia dos pais. A proposta, segundo especialistas, é uma oportunidade para ampliar as discussões sobre a necessidade da participação dos pais na prática do cuidado.
A expansão da licença paternidade proporcionará maior qualidade ao vínculo paterno.
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A qualidade do vínculo que eu, pai, vou estabelecer com aquela criança, se eu tiver um tempo maior de aproximação com ela nos primeiros dias de vida, é crucial.
É necessário repensar os modelos de masculinidade.
Discutir a licença parental é essencial, também, para promover a saúde física e mental das mulheres, que se sentem sobrecarregadas diante do nascimento dos filhos.
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Essa defesa, apresentada por Rena, também se baseia em sua experiência no projeto Fala Comigo, desenvolvido por ele em 2020, com o propósito de criar um ambiente de apoio para que homens pudessem abordar temas como masculinidade, relacionamento e paternidade. O projeto é inspirado no documentário “O Silêncio dos Homens”, disponível no YouTube.
A masculinidade, nesse caso, é um tema central, segundo o professor, a ser repensado para abordar a maior presença dos pais na vida dos filhos.
Todos nós homens selecionamos modelos de masculinidade ao longo da vida. Meu pai foi até um certo ponto o meu modelo. Posteriormente, fiz uma avaliação desse modelo e outros entraram no seu lugar. É preciso assegurar aos jovens, principalmente aos meninos, que eles realizem essa crítica. Que tipo de homem se apresenta diante de mim como modelo?
Ouça a entrevista completa com Luiz Rena no Visões Populares, podcast do Brasil de Fato MG.
Comunicação e educação como processos contínuos.
Edward Guimarães, também professor, viu sua vida alterada com o nascimento de sua filha, Maria Fernanda, em 2015. Pai adotivo, ele identificou rapidamente a importância da divisão das tarefas domésticas.
Atualmente, dispõe-se de maiores condições de, com consciência, assumir a paternidade, em comparação com épocas em que se via o papel do homem como provedor, restringido a apenas estabelecer limites. E não, o cuidado é de todos nós, o que nos humaniza.
Para ele, contudo, o progresso na sociedade nessas discussões não é uma vitória final.
É fundamental que cada geração promova debates, para que esses direitos e deveres sejam internalizados e se transformem em práticas culturais, em cada família. Observando o mapa da violência no Brasil, o alto índice de masculinidade tóxica, violência doméstica e feminicídio, é preciso avançar no diálogo, na presença e na referência, o que representa uma discussão contínua.
Outras formas de ser homem
Ele também defende José Antônio Moroni, pai solteiro adotivo de quatro irmãos, atualmente jovens com 21, 23, 25 e 27 anos.
A discussão sobre os debates das masculinidades e das masculinidades tóxicas também envolve o enfrentamento de algumas questões da nossa sociedade. Envolve o enfrentamento do patriarcado, do machismo, do racismo, do combate à LGBTfobia, sabe? Da questão da diferença de classes, das desigualdades. Para mim, esse tipo de masculinidade que nós temos hoje, que se passou a dar esse nome, é fruto disso.
Refletir sobre outras possibilidades de masculinidade, na sociedade, exige o engajamento nesses diálogos e a construção de novos referenciais.
Conversa, desde o início, de forma tranquila com meus filhos sobre diversas questões. Acredito que ter um ambiente doméstico onde se possa discutir qualquer assunto com os filhos é essencial.
Licença é ainda insuficiente.
Em relação à ampliação da licença-paternidade para 15 dias, Moroni considera um avanço, mas ressalta que o tempo é insuficiente e precisa ser ampliado.
Ao me tornar pai, obtive a licença de 120 dias pelo INSS, devido à minha situação de pai solteiro. Vivemos em uma sociedade que, infelizmente, ainda é patriarcal, o que implica que a responsabilidade pelos cuidados, incluindo os da casa e dos filhos, recai sobre as mulheres. É terrível quando o homem diz: “eu ajudo minha mulher a cuidar dos filhos”. Não, não se trata de ajuda, o pai também é responsável por isso.
Adoecimento
Neste dia dos pais, Moroni recorda, com satisfação, que ser pai sempre foi um objetivo, sobretudo ligado à adoção. O procedimento, inclusive, o agradou pela sua rapidez.
A paternidade é uma relação desenvolvida cotidianamente, como toda relação humana.
Não se tratou de uma longa espera, declarou. Um dos fatores que levaram a isso foi a falta de requisitos no processo, o que ele critica.
Ele afirma que elaborou uma lista de compras: desejava um filho do sexo masculino, com determinada idade e cor dos olhos, em bom estado de saúde… Eu não estabeleci nenhuma exigência. Disse: “Vou ser pai de quatro meninos”.
Devido à ausência de candidatos interessados em adotar o grupo de irmãs, o processo foi conduzido de forma mais rápida, considerando que a legislação prioriza a manutenção dos vínculos familiares.
Eles decidiram manter os nomes das crianças em comum acordo, adicionando um segundo nome e meu sobrenome, Moroni. Mais do que o registro, o que fortaleceu o sentimento de paternidade foi o vínculo diário.
É uma relação que se constrói ao longo do tempo, como toda relação humana, que chega ao fim.
Fonte por: Brasil de Fato