Sacerdote da Paraíba sob investigação por suposto racismo religioso: “Onde estão essas divindades que não ressuscitou Preta Gil?”

Vídeo removido do YouTube, contudo, associação apresentou denúncia após repercussão nas redes sociais.

30/07/2025 17h24

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(Imagem de reprodução da internet).

A Polícia Civil da Paraíba instaurou inquérito para apurar denúncia de racismo religioso contra o padre Danilo César, de Areial, no Agreste paraibano. O inquérito foi instaurado após a Associação Cultural de Umbanda, Candomblá e Jurema Mãe Anália Maria de Souza apresentar a denúncia, referente a falas proferidas durante uma missa celebrada no último domingo (27), que foi transmitida ao vivo pelo canal da Paróquia de Areial no YouTube.

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No vídeo, que teve grande repercussão nas redes sociais antes de ser retirado do canal, o padre mencionou a morte da cantora Preta Gil, ocorrida em 20 de julho, nos Estados Unidos, devido a um câncer colorretal, como uma maneira de criticar as religiões de matriz africana.

Solicita saúde, porém não alcança saúde, é porque Deus sabe o que faz, ele sabe o que é melhor para você, que a morte é melhor para você. Como é o nome do pai de Preta Gil? Gilberto Gil fez uma oração aos orixás, onde estão esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil? Já foram enterrados?, afirmou o padre durante a homilia.

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Após a fala, ele se dirige aos fiéis que estavam na igreja e critica católicos que recorrem a outras religiões: “E tem católico que pede essas coisas ocultas, eu só queria que o diabo viesse e levasse. No dia seguinte quando acordar lá, acordar com calor no inferno, você não sabe o que vai fazer. Tem gente que não vai aqui (Areial), mas vai em Puxinhanã£, em Pocinhos, mas eu fico sabendo. Não deixe essa vida não para você ver o que acontece. A conta que a besta fera cobra é bem baratinha”.

Religiosos associam práticas afro-brasileiras à morte e à doença.

Durante a transmissão, o padre mencionou um caso com uma mulher e sua filha, vinculando de forma direta práticas religiosas de matriz africana a dor e à morte.

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Já fui fazer as exéquias na minha cidade natal e, desde cedo, minha mãe havia consagrado a filha a essas entidades desconhecidas que têm vários nomes. Ela morreu cedo e a morte dela foi tão sofrida. E eu lembro quando ela dizia que “tinha sido a besta fera que tinha vindo buscar a filha dela conforme tinha prometido”, olha a conta, um filho.

E há católico que deseja tais coisas escondidas, eu só queria que o diabo viesse e levasse. No dia seguinte, ao acordar, lá estaria, com calor no inferno, você não sabe o que fará. Há pessoas que não vêm aqui (Areial), mas vão em Puxinhanã£, em Pocinhos, e eu fico sabendo. Não se entregue a essa vida, para você ver o que acontece. A dívida que a besta cobra é bem barata, conclui o padre.

O religioso também no vídeo narrou uma história sobre uma mulher e sua filha, que, segundo ele, a mãe teria dedicado a “entidades desconhecidas com vários nomes”. Ele vincula práticas de religiões de matrizes africanas a doenças e à morte.

Já fui fazer as exéquias na minha cidade natal e uma mãe desde cedo tinha consagrado a filha a essas entidades desconhecidas que têm vários nomes. Ela morreu cedo e a morte dela foi tão sofrida. E eu lembro quando ela dizia que “tinha sido a besta fera que tinha vindo buscar a filha dela conforme tinha prometido”, olha a conta, um filho.

A diocese se manifesta.

A Diocese de Campina Grande, responsável pela Paróquia de Areial, divulgou nota informando que o sacerdote, por meio de sua assessoria jurídica, irá prestar todos os esclarecimentos necessários aos órgãos competentes.

Leia a nota:

O vídeo da missa, transmitido ao vivo pelo YouTube, foi removido logo após a celebração. Contudo, integrantes da associação que formalizaram o boletim de ocorrência obtiveram uma cópia e divulgaram o conteúdo nas redes sociais. no Youtube.

Entidades condenam declarações e acionam o Ministério Público.

A Associação Cultural de Umbanda, Candomblé e Jurema Mãe Anália Maria de Souza, por meio de Rafael Barbosa, manifestou-se nas redes sociais, afirmando que o religioso dissemina discursos de ódio ao distorcer doutrinas.

“Deus é amor e respeito ao próximo, mas, infelizmente, esse senhor que se diz sacerdote prega o ódio e o preconceito, e ainda amedronta em pleno culto em sua igreja”, afirmou ele. “As pessoas precisam compreender que Jesus não veio ao mundo segundo a percepção humana, e que ninguém deve ser discriminado por sua cor, orientação sexual ou religião, e sim julgado pelo seu caráter. Assim para todos nós.”

Gerino também comunicou em suas redes sociais o registro de boletim de ocorrência por intolerância religiosa na Polícia Civil e manifesta intenção de formalizar denúncia junto ao Ministério Público da Paraíba (MPPB).

O Fórum de Diversidade da Paraíba também se posiciona contra o discurso

O presidente do FÓRUM de Diversidade da Paraíba, Saulo Gimenez, também criticou o discurso do padre, ressaltando o ambiente e a maneira das declarações, proferidas no altar da igreja.

É uma lástima para todos nós que, em pleno século XXI, após uma pandemia que deixou mães sem filhos, familiares sem seus entes queridos, amigos perdidos, em meio a uma crise mundial, pessoas perdendo suas vidas, um sacerdote usar seu lugar sagrado, usar seu sacerdócio para destilar um veneno tão sórdido como o ódio, como as intolerâncias. Usar um espaço que é para falar de amor, de compreensão, de solidariedade, mas não, está ali sendo cruel.

O fórum declarou que continuará acompanhando de perto o caso, oferecendo suporte à associação e direcionando o caso às autoridades competentes, solicitando uma retratação formal do padre.

O jornal Brasil de Fato buscou contato com o padre Danilo César pelas redes sociais, sem obter resposta até a publicação desta matéria.

Fonte por: Brasil de Fato

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