Economia

Saiba como a seca na Amazônia pode afetar o preço da energia elétrica e o fornecimento de eletricidade


Saiba como a seca na Amazônia pode afetar o preço da energia elétrica e o fornecimento de eletricidade
(Foto Reprodução da Internet)

Especialistas entrevistados pela CNN explicam que o Sistema Interligado Nacional (SIN) possui mecanismos para lidar com a seca na região Amazônica, mas não descartam a possibilidade de que esse fenômeno possa aumentar o custo da energia elétrica.

Em 2 de outubro, a usina hidrelétrica Santo Antônio, localizada em Rondônia, teve sua operação interrompida devido à queda dos níveis do rio Madeira. Essa usina tem uma capacidade instalada de 3.568 megawatts e, em 2022, ocupou o quarto lugar no ranking de geração de energia.

As operações da usina hidrelétrica Santo Antônio foram retomadas em 16 de outubro. No entanto, essa interrupção gerou preocupações sobre os possíveis impactos da seca na região na geração de energia elétrica no Brasil.

O professor da FGV e especialista em Planejamento Energético, Vanderlei Martins, aponta que, se essa situação persistir, o setor elétrico tem mecanismos para manter o fornecimento de energia sem interrupções, mas isso pode resultar em custos mais elevados para os consumidores.

Ele explica que, caso mais usinas hidrelétricas sejam afetadas pela seca, os custos de geração de energia no país podem aumentar, e esses custos seriam distribuídos para todo o Sistema Interligado Nacional (SIN). Isso poderia levar à necessidade de acionar usinas térmicas, que geralmente têm custos de geração mais elevados.

Este aumento pode ocorrer, indica o especialista, por meio dos mecanismos de bandeira tarifária e encargos setoriais.

Gerente de monitoramento estratégico da Esfera Energia, Daniel Ito reitera a possibilidade de a seca impactar o encargo de serviço de sistema (ESS) — que diz respeito a custos que não estavam previstos inicialmente nas operações de energia e são rateados entre os consumidores.

“Se for necessário usar usinas térmicas para suprir a demanda na região, isso pode ter um impacto e gerar custos adicionais para todos os consumidores,” adverte o professor da FGV, Vanderlei Martins.

No entanto, ambos os especialistas ressaltam que a energia hidrelétrica gerada na região tem pouca influência no cálculo do preço da eletricidade. O Norte contribui em média com apenas 6% da capacidade total dos reservatórios do sistema nacional.

O Ministério de Minas e Energia afirmou que, diante da possibilidade de um período de El Niño severo, tomou medidas preventivas. Isso incluiu a mobilização de recursos para garantir a continuidade do fornecimento de energia na região Norte, especialmente nos sistemas isolados. Essas ações visam garantir a operação segura e confiável da energia elétrica na região.

“O MME destaca que tal iniciativa não causa impactos no custo dos consumidores de energia elétrica”, completou.

A CNN também procurou Belo Monte, a maior usina hidrelétrica 100% brasileira, para que comentasse os efeitos do fenômeno climático para sua operação. Wady Charone Júnior, diretor de Operação e Manutenção da usina, negou que a seca afete as operações neste momento.

“A usina foi construída a fio d’água [sem reservatório], a sazonalidade do rio Xingu durante o verão amazônico reduz naturalmente a geração de energia do empreendimento. Apesar da seca verificada em regiões da Amazônia, as previsões de vazão do rio Xingu, até o momento, não afetam o Complexo Hidrelétrico Belo Monte”, disse.

Mecanismos do SIN afastam risco de apagão

Daniel Ito acredita que a probabilidade de ocorrer um apagão regional devido à seca é baixa, devido à “capacidade de intercâmbio” do Sistema Interligado Nacional (SIN). A geração de energia em outros subsistemas pode ser direcionada para ajudar a atender à demanda energética da região Norte.

Ele também destaca que as condições no Sudeste estão confortáveis, reduzindo significativamente o risco de apagões. Os reservatórios no Sudeste estão com níveis muito acima do normal, o que contribui para a segurança energética.

Vanderlei Martins reitera a importância do SIN, que permite a utilização de usinas de outras regiões para apoiar a operação do setor elétrico, garantindo a segurança energética e o fornecimento contínuo, mesmo em situações de emergência.

O especialista indica que a maioria das usinas da região, inclusive a de Santo Antônio, foram construídas na modalidade a fio-d’água, o que faz o empreendimento contar apenas com a disponibilidade momentânea do recurso hídrico para a geração.

Essa composição não tem reservatório de acumulação, por conta dos impactos ambientais associados.

Esse tipo de usina ressalta a importância de ter “back-ups” no sistema elétrico, como a contratação de energia de reserva, para garantir a segurança energética em momentos de crise hídrica, como o país já enfrentou em outras ocasiões.

Apesar de descartar a possibilidade de um apagão, Vanderlei Martins observa que a seca pode ter impactos econômicos, afetando a produção industrial e o emprego, além de causar prejuízos sociais, uma vez que famílias de baixa renda podem ser desproporcionalmente afetadas por aumentos nas tarifas de energia.


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