Sem Bolsonaro, o bolsonarismo busca persistir apostando em anistia e novos líderes, analisa sociólogo

Paulo Roberto de Souza examina ações da direita e identifica disputa no cenário conservador em torno de sucessão política até 2026.

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(Imagem de reprodução da internet).

As manifestações do último domingo (3), que solicitaram anistia aos golpistas do 8 de janeiro e atacaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, evidenciaram um movimento bolsonarista em busca de reorganização, mas também demonstraram um processo de esvaziamento político com a ausência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). É o que avalia o professor Paulo Roberto de Souza, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.

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A primeira questão refere-se ao próprio bolsonarismo em seu núcleo duro e essa preocupação e insistência de transformar o caso do Jair Bolsonaro, se possível, em algo como uma perseguição política, até violação dos direitos humanos. Veja só, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e o bolsonarismo defendendo os direitos humanos, ironiza o professor. Para ele, a estratégia visa manter viva a imagem do ex-presidente, mesmo diante da iminente condenação por sua participação na tentativa de golpe.

O segundo ponto levantado por Souza é o afastamento previsto de potenciais herdeiros no cenário da direita, como os governadores Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado (GO), Ratinho Jr. (PR) e Tarcísio de Freitas (SP). “A cada dia mais fica evidente, devido a toda essa interferência em relação à tarifação do [presidente dos EUA, Donald] Trump, que não ocorreu tão rapidamente […], que eles estão preparando um cenário de autonomia em relação à figura de Jair Bolsonaro”, aponta.

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Quanto à tentativa de deputados como Nikolas Ferreira e Sostenes Cavalcante (PL-RJ) de incluir na pauta a anistia para golpistas no Congresso, o sociólogo considera que o tema tende a perder força. “A anistia está cada vez menos provável”, afirma. “Mas por parte de Sostenes e Nikolas […], faz até mais sentido continuar insistindo se isso não for colocado em pauta. Porque eles mantêm essa posição de radical, de defensores extremos dos direitos humanos, ao contrário”.

Planalto inicia nova etapa e disputa pela liderança.

Durante o 17º Encontro Nacional do PT, Lula reiterou temas como a proteção do meio ambiente, a tributação dos super-ricos e o encerramento da jornada de 6 horas e 1 minuto. Na avaliação de Paulo Roberto de Souza, o novo presidente do partido, Edinho Silva, indica uma atuação mais ênfase e menos institucional. “Edinho se apresenta como alguém que vai buscar trazer o partido para essa disputa, que não é qualquer disputa, é uma disputa de caráter hegemônico sobre ideias”, afirma.

Para o sociólogo, o campo progressista deve intensificar a competição nas eleições legislativas de 2026. “Existe uma expectativa de aprimoramento dos serviços públicos […], e há também uma expectativa em relação à distribuição de renda, pois a maioria das pessoas no Brasil apoia a taxação das grandes fortunas.”

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A popularidade de Lula aumenta e a comunicação se aprimora.

Souza também comentou os resultados recentes do Datafolha, que apontam Lula como favorito para 2026. Ele acredita que o governo colhe os frutos de uma melhora de desempenho, somada à reação contra a retórica da extrema direita. “O tarifário e essa disputa colocada pela extrema direita […], acelerou esse processo [de melhora de avaliação do governo], na minha leitura”.

Também aponta a evolução na estratégia de comunicação do governo. “É notório que a comunicação do governo melhorou, e muito”. […]. Não só de comunicação institucional se faz política, defende.

Quem emerge após Lula?

O professor destaca a dificuldade de novos líderes emergirem fora de uma aliança mais central. Para ele, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é o nome mais proeminente até o momento, embora haja potencial para novas opções. “Alguns dos nomes já começam a aparecer”, afirma, referindo-se aos do deputado Guilherme Boulos (PSL-SP); do prefeito do Recife, João Campos (PSB); e da deputada Tabata Amaral (PSB-SP).

De acordo com Souza, essas figuras podem indicar conflitos futuros dentro da própria esquerda. “Haverá disputa internamente no campo progressista com sociais liberais relevantes para o futuro”, afirma.

Para audir e visualizar.

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

Fonte por: Brasil de Fato

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