Sem Lula, 1º de Maio em SP busca concentração de 6 mil e tem oposição de setores de esquerda
A programação para o encerramento da escala 6 por 1 está distribuída nos três segmentos distintos que compõem a programação do Dia do Trabalhador em São Paulo.

São Paulo – Sindicatos e grupos ligados à esquerda retomam as ruas de São Paulo nesta 1º de maio, Dia Internacional do Trabalhador. Diferentemente de anos anteriores, as mobilizações se concentram em locais distintos, com lideranças independentes e sem a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A discussão sobre o fim da escala de 6 por 1 tem relevância, sobretudo em relação às novas demandas do mercado de trabalho, e está presente nos diversos movimentos organizados para o dia.
As principais medidas nos dois projetos são a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais, a redução da taxa de juros e a diminuição da jornada de trabalho sem perda salarial, além do encerramento da jornada de 6 horas para 1.
Escala 6 x 1
A extinção da escala 6 para 1 está em pauta nos dois atos da capital e será tema de um terceiro ato, organizado pelo movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que ocorrerá na avenida Paulista, no centro da cidade, em 1º de Maio.
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O tema recebeu destaque com a proposição de lei da deputada Erika Hilton (PSol) em 2024, gerando interesse em outros grupos históricos. A questão é considerada mais relacionada a trabalhadores do comércio e serviços, e não tanto às categorias industriais.
A deputada Erika Patrícia, sem filiação sindical, protocolou na Câmara dos Deputados o caso após o vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ) viralizar no TikTok com um vídeo em que manifestava insatisfação com a rotina de trabalho, que lhe concedia apenas um dia de folga semanal.
O VAT afirma não ter conseguido o apoio de centrais sindicais tradicionais. O grupo critica a atuação dos sindicatos no Dia do Trabalhador, com a promoção de sorteios e apresentações.
Não é o momento de apenas fazer um show. Queremos lutar e reivindicar nossas vidas. Acreditamos que o trabalhador merece tudo, show e sorteio, mas isso sem luta é pão e circo.
Reunião com Lula
Na terça-feira (29), lideranças dos principais sindicatos se reuniram com Lula, em Brasília. O presidente, que não participará dos atos na capital paulista, recebeu a relação de demandas e declarou esperar o envolvimento do Congresso nas pautas.
“Foi uma reunião de mais duas horas. O Lula nos recebeu de forma carinhosa e entregamos a nossa pauta. Ele chamou a atenção de que o mundo mudou, que hoje os trabalhadores são muito diferentes e que precisamos ir para a rua, motivar os jovens e incentivar a participação social deles”, afirmou ao Metrópoles Ricardo Patah, presidente da UGT.
Contávamos com a presença dele [Lula], mas estamos seguindo em frente, sem maiores problemas. Ele já nos recebeu na terça, afirmou ao Metrópoles João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical. Estão previstas a presença dos ministros do Trabalho, Luiz Marinho; da secretaria geral da Presidência, Márcio Macedo; e da Mulher, Cida Gonçalves.
A crise dos sindicatos se manifesta em diversos níveis, incluindo a perda de representatividade, a diminuição do poder de negociação e a desconfiança dos trabalhadores em relação às organizações sindicais.
Para o cientista político e professor da FGV, Marco Antonio Teixeira, a divisão nas ruas reflete uma dificuldade das entidades tradicionais em se conectarem às novas formas de trabalho.
A discussão sobre o 6×1 emergiu fora dos movimentos sindicais. A principal divulgadora dessa temática é a deputada Erika Hilton, que pode ter maior habilidade em mobilizar pessoas do que as próprias pautas defendidas pelos sindicatos, segundo a afirmação.
Além de cientista político e professor do Insper, Carlos Melo ressalta o papel da reforma trabalhista e a mudança no perfil dos empregos como fatores da crise de representatividade dos sindicatos.
“Olhar para o Dia dos Trabalhadores com a mesma mentalidade é um erro. Esse erro se deu no ano passado, quando o presidente Lula, talvez sem perceber, foi a uma manifestação onde compareceram menos de 2 mil pessoas, o que para a história do movimento sindical não é nada.”
Além disso, os atos deste ano apresentam um agravante: o escândalo da farra do INSS, que culminou no envolvimento de sindicatos, intensificando a crise do setor.
Fontes consultadas pelo Metrópoles, contudo, reduzem a importância da atuação da Polícia Federal na mobilização do 1º de Maio. “Se a mobilização foi significativamente menor do que em anos anteriores, isso não se deve a esse escândalo. Os problemas do movimento sindical datam de antes dessa questão”, declara Melo.
Fonte: Metrópoles