Senadores dos EUA pedem a Trump que revogue tarifas sobre produtos brasileiros
A interferência em favor de Jair Bolsonaro representa um sério desrespeito ao poder e compromete a influência de Washington.

Senadores americanos do Partido Democrata encaminharam ao presidente Donald Trump uma carta na qual se opõem ao aumento de tarifa a 50% sobre as importações de produtos brasileiros, considerando-o um “abuso de poder” que causará prejuízos ao país.
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A expectativa do governo dos Estados Unidos é que a taxa seja implementada na próxima sexta-feira 1º.
A solicitação é liderada por Jeanne Shaheen, do Comitê de Relações Exteriores do Senado, e Tim Kaine, do Subcomitê de Relações Exteriores do Senado para o Hemisfério Ocidental.
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O grupo questiona a tentativa de Trump de interferir no processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que será julgado no Supremo Tribunal Federal por liderar a tentativa de golpe de Estado em 2022.
Interferir no sistema jurídico de outra nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação, sustentam os congressistas. Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses processos em nome de um amigo é um grave abuso de poder, mina a influência dos EUA no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região.
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Os senadores ressaltam que os Estados Unidos apresentam superávit na balança comercial com o Brasil desde 2008. Adicionalmente, argumentam que a imposição de tarifas aumentaria os custos para famílias e empresas norte-americanas.
Os Estados Unidos importam mais de 40 bilhões de dólares anualmente do Brasil, incluindo quase 2 bilhões de dólares em café. O comércio entre os EUA e o Brasil sustenta quase 130 mil empregos nos Estados Unidos, que estão em risco devido às ameaças de tarifas elevadas.
Uma sucessão de retaliações consecutivas, alertaram, provocará prejuízos aos exportadores americanos e taxas sobre importações excedam os 50% já anunciados.
O documento também aponta preocupações geopolíticas, sustentando que a guerra comercial iniciada por Trump aproximará o Brasil da República Popular da China (RPC), em um momento em que os EUA precisam combater agressivamente a influência da RPC na América Latina. Empresas estatais chinesas e vinculadas ao Estado estão investindo pesadamente no Brasil, incluindo vários projetos portuários em andamento, e recentemente a China State Railway Group firmou um Memorando de Entendimento para analisar um projeto ferroviário transcontinental.
Afirmam que os principais objetivos dos Estados Unidos na América Latina são o fortalecimento das relações econômicas, a promoção de eleições democráticas livres e justas e o enfrentamento da influência da China.
Leia a carta na íntegra:
Prezado senhor Donald Trump:
Escrevemos para manifestar preocupações relevantes acerca do evidente desvio de poder presente em sua recente ameaça de desencadear uma guerra comercial com o Brasil. Os Estados Unidos e o Brasil possuem questões comerciais legítimas que devem ser debatidas e resolvidas por meio de negociações. Contudo, a imposição tarifária de seu governo não se destina a isso. Ademais, não se trata de um déficit comercial bilateral, considerando que os EUA apresentaram um superávit comercial de 7,4 bilhões de dólares com o Brasil em 2024 e não registram déficit comercial com o Brasil desde 2007.
Em vez da “afirmação explícita” em sua carta ao presidente Lula da Silva, a ameaça de impor tarifas de 50% sobre todas as importações do Brasil e a ordem do Representante Comercial dos EUA para iniciar uma investigação nos termos da Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 visam, principalmente, forçar o sistema judicial independente do Brasil a interromper o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Intervir no sistema jurídico de outra nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação.
O ex-presidente Bolsonaro é um cidadão brasileiro que está sendo processado em tribunais brasileiros por supostas ações sob sua jurisdição. Ele é acusado de trabalhar para minar os resultados de uma eleição democrática no Brasil e de planejar um golpe de Estado. Utilizar o peso da economia americana para interferir nesses procedimentos em nome de um amigo constitui um grave abuso de poder, compromete a influência dos Estados Unidos no Brasil e pode prejudicar nossos interesses na região. O anúncio de seu governo, em 18 de julho de 2025, de sanções de visto contra funcionários do Judiciário brasileiro envolvidos no caso do sr. Bolsonaro, indica mais uma vez a disposição do seu governo em priorizar sua agenda pessoal em detrimento dos interesses do povo americano.
Suas ações aumentariam os custos para famílias e empresas americanas. Os Estados Unidos importam mais de 40 bilhões de dólares anualmente do Brasil, incluindo quase 2 bilhões de dólares em café. O comércio entre os EUA e o Brasil sustenta quase 130 mil empregos nos Estados Unidos, que estão em risco devido às ameaças de tarifas elevadas. O Brasil também prometeu retaliar, e vocês, preventivamente, prometeram retaliar na mesma moeda, o que significa que os exportadores americanos sofrerão e os impostos sobre importações para os americanos subirão além do nível ameaçado de 50%.
Um conflito comercial com o Brasil também aproximará o Brasil da República Popular da China (RPC), em um momento em que os EUA precisam combater agressivamente a influência da RPC na América Latina. Empresas estatais chinesas e vinculadas ao Estado estão investindo pesadamente no Brasil, incluindo vários projetos portuários em andamento, e recentemente a China State Railway Group firmou um Memorando de Entendimento para analisar um projeto ferroviário transcontinental.
Essas considerações não são exclusivas do Brasil. Em toda a América Latina, a RPC trabalha para aumentar sua influência por meio da Iniciativa Cinturão e Rota. Estamos preocupados que suas ações para minar um sistema judicial independente apenas aumentem o ceticismo em relação à influência americana em toda a região e forneçam às autoridades da RPC e às empresas apoiadas pelo Estado maior credibilidade para sua agenda. A mesma tendência também está ocorrendo no Leste e no Sudeste Asiático.
Os objetivos primordiais dos EUA na América Latina devem ser o fortalecimento de relações econômicas mutuamente benéficas, a promoção de eleições democráticas livres e justas e o combate à influência da RPC. Incentivamos vocês a reconsiderarem suas ações e priorizarem os interesses econômicos dos americanos que buscam previsibilidade, e não mais uma guerra comercial.
Os senadores assinam a carta.
Fonte por: Carta Capital