Sindicato alerta para “erro muito grande” com a redução de médicos da família em SP, após decisão da Gestão Nunes
Técnicos relatam demissões em unidades básicas de saúde por não cumprirem a carga horária de 40 horas; Simesp considera prejuízo à qualidade do serviço …
A prefeitura de São Paulo determinou o desligamento de médicos da família que atuam em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital. A medida impacta profissionais contratados para trabalhar 20 horas semanais, que estão sendo dispensados por se recusarem a ampliar a jornada para 40 horas. O Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) aponta que organizações sociais (OSs) que gerenciam as unidades estão sob pressão da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para concretizar as demissões.
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Médicos com contratos de 20 horas têm sido questionados ou incentivados a aumentarem a carga horária; em caso negativo, seriam demitidos, conforme relata Guilherme Barbosa, diretor do Simesp, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Apesar da medida sugerir um aumento no atendimento, Barbosa esclarece que na realidade ela consiste em substituir duas unidades de 20 por uma de 40. Assim, não há expansão no atendimento ou na cobertura.
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A situação preocupa especialmente os profissionais da Zona Oeste, onde se concentra a maior parte dos contratos de 20 horas. A região abriga médicos vinculados à Universidade de São Paulo (USP), que atuam na formação de estudantes e residentes. “Esses médicos estão bastante preocupados”, diz. O sindicato estima que há 64 médicos apenas na Supervisão Técnica de Saúde (STS) do Butantã. “Ou seja, 32 equipes [compostas por dois médicos que trabalham 20h] da Estratégia de Saúde da Família podem ser afetadas”, lamenta.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) tem demonstrado uma abordagem isolada, sem diálogo com o sindicato ou a população. “Está sendo muito difícil conversar com a secretaria. O sindicato não foi convocado para discutir esse assunto, a população não está sabendo o que está acontecendo”, critica Barbosa.
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A influência na qualidade do atendimento
A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é vista como a principal forma de atenção primária no Sistema Único de Saúde (SUS), focada no acompanhamento contínuo das comunidades. Cada equipe é composta por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Médicos especialistas em Medicina de Família e Comunidade, conforme aponta Barbosa, são essenciais nesse processo.
O médico de família e comunidade é especialista. Ele acompanha essas famílias ao longo do tempo, estabelecendo vínculo, realiza diversos procedimentos e possui capacidade de comunicação e abordagem que são muito importantes para o cuidado dessas pessoas. Ele encaminha para outros profissionais com menos frequência e solicita menos exames desnecessários.
Barbosa adverte que a substituição de profissionais pode comprometer o relacionamento com os pacientes e influenciar a qualidade do atendimento. “Se interrompemos esse acompanhamento diversas vezes, causamos rupturas de vínculos que colocam os pacientes em uma situação de insegurança”, afirma.
Precarização do trabalho
Muitos profissionais preferem contratos de 20 horas devido a diferentes razões, como estudos, especializações ou outros compromissos. Para o sindicato, impor a mudança para o regime de 40 horas pode aumentar a já elevada rotatividade na atenção primária. “A fixação de médico e médica na cidade de São Paulo gira em torno de menos de um ano. Na Zona Oeste, temos médicos há três, cinco, até dez anos nas mesmas equipes. Isso é raro”, afirma.
O Simesp também aponta que alguns dos médicos demitidos estariam sendo substituídos por profissionais contratados como pessoa jurídica, em um modelo de terceirização ainda mais precário. “A prefeitura não está preocupada com a qualidade da assistência; está preocupada com um repasse pequeno diante de todo o volume de gastos da secretaria. Tratar esse cuidado como métrica, como se os profissionais fossem substituíveis, descartáveis, é um erro muito grande de gestão em saúde”.
Barbosa afirma que os moradores da Zona Oeste iniciaram o movimento de protesto contra os cortes. “A população percebe o dano que sofrerá com essas interrupções no atendimento. É muito grave e triste que a secretaria adote essa postura, sem qualquer diálogo”, comenta.
Para audir e visualizar.
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
Fonte por: Brasil de Fato