Teste de perda olfativa antecipa diagnóstico de demência

O especialista em otorrinolaringologia, Márcio Nakanishi, defende que o olfato pode ser mais utilizado na área médica.

15/06/2025 6h07

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Dr. Márcio Nakanishi, Otorinoteste concedeu entrevista ao Poder360 sobre o teste Olfato que em breve deve estar disponível no mercado. | Sérgio Lima/Poder360 20.mai.2022

A incorporação de exames de avaliação do olfato nos sistemas de saúde poderia auxiliar no diagnóstico precoce de doenças degenerativas e reduzir os custos de tratamento para o setor público. A afirmação é do otorrinolaringologista e professor universitário Márcio Nakanishi.

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O especialista, em entrevista ao Poder360, declara que o olfato, em conjunto com outros elementos, pode ser um biomarcador significativo para o diagnóstico precoce da demência. “Ele pode prever o risco de uma pessoa saudável com antecedência de 5 a 10 anos”, afirmou.

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Uma das sugestões do especialista é a realização em larga escala de testes atuais para aumentar a identificação da perda olfatória e prever diagnósticos de demência no sistema de saúde brasileiro.

O Hospital Universitário de Brasília, denominado HUB-UnB, é o primeiro hospital público do país a implementar o uso de um medidor digitalizado: o DSD (Dispositivo de Fragrância Digital).

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Nakanishi colaborou na construção do dispositivo. Em 2022, um dos estudos que liderou resultou no desenvolvimento do tablet portátil que permite medir o olfato do paciente. O produto foi desenvolvido pela startup Noar com o propósito de mensurar eventuais perdas causadas pelo vírus da Covid-19.

Assista à entrevista completa (36min3s):

A inteligência artificial está se tornando cada vez mais sofisticada, com modelos de linguagem capazes de gerar textos complexos e coerentes. No entanto, ainda existem desafios significativos em relação à sua capacidade de compreender o mundo real e de raciocinar de forma independente. A pesquisa nessa área busca desenvolver sistemas que possam aprender com dados, adaptar-se a novas situações e tomar decisões com base em informações context

Funcionamento e resultados.

Para avaliar sua capacidade olfativa com o DSD, o paciente responde a 40 questões de múltipla escolha. Após identificar o odor emitido pelo dispositivo, ele indica no próprio aparelho ou em smartphone qual o aroma. A avaliação leva aproximadamente 12 minutos e o equipamento permite até 100 testes com um único refil.

A partir de 2023, com o lançamento no mercado comercial, o uso do dispositivo se desenvolveu. Atualmente, o produto está associado a um banco de dados que registra em tempo real os resultados de todos os testes executados.

Nakanishi argumenta que o procedimento, somado ao alcance do SUS (Sistema Único de Saúde), poderia tornar o sistema de saúde mais pragmático. “O SUS é amplo, mas ele carece de duas coisas: qualidade e eficiência. O DSD consegue trazer qualidade na atenção primária, porque ele é barato do ponto de vista do que ele entrega”.

Para o especialista, o cenário do envelhecimento populacional no Brasil demanda políticas públicas mais eficazes. “Temos duas décadas para nos preparar”, afirmou.

Perda do olfato e demência.

A perda do olfato está relacionada ao diagnóstico precoce de demência devido a explicações anatômicas.

Diferentemente dos demais sentidos, o olfato não atravessa o tálamo – uma espécie de centro que organiza e distribui as informações no cérebro. O odor vai diretamente ao sistema límbico, conjunto de estruturas cerebrais que regulam a emoção, a memória e o comportamento. “Esses são os fatores cruciais afetados pela demência”, afirma Nakanishi.

O especialista em otorrinolaringologia ressalta que a demência é uma síndrome marcada pelo declínio da função cognitiva. Habilidades como memória, raciocínio e planejamento são afetadas de maneira irreversível. Atualmente, não existem métodos para restaurar as células cerebrais danificadas por doenças degenerativas.

De acordo com Nakanishi, as proteínas que causam o Alzheimer se acumulam na área do córtex olfativo. Assim, a perda do olfato é observada antes do paciente apresentar a demência.

Risco de falecimento.

Um estudo publicado na revista acadêmica JAMA (The Journal of the American Medical Association) em abril de 2025 aponta para uma relação entre a perda olfativa e a mortalidade em idosos. Acesso ao estudo em inglês.

O estudo faz parte de um censo longitudinal que acompanhou 2.524 moradores de uma ilha na Suécia, entre 2001 e 2013. Todos os indivíduos participantes tinham idade entre 60 e 99 anos na primeira avaliação de dados.

Indivíduos com menos de 78 anos foram entrevistados a cada seis anos. Pessoas com mais de 78 anos foram convocadas a cada três anos.

Durante os exames clínicos, os pesquisadores avaliaram a capacidade olfatória dos idosos através do teste denominado “Sniffin’ Sticks”. Os participantes recebiam 16 canetas com odores distintos e precisavam identificar livremente o aroma de cada bastão. Caso não conseguissem, escolhiam entre quatro opções apresentadas por escrito.

Uma resposta errada no teste de identificação de odores está associada a um aumento de 6% no risco de morte nos próximos 6 anos e 5% em 12 anos. Essa proporção se aplica a todas as causas de morte consideradas no estudo, abrangendo doenças degenerativas, câncer, mortes cardiovasculares e respiratórias.

A análise de casos de óbitos causados exclusivamente por doenças neurodegenerativas revelou que uma resposta inadequada representava um risco de mortalidade de 28% nos seis anos subsequentes e 19% nos doze anos seguintes.

O Brasil enfrenta um crescente desafio com o aumento da prevalência da demência, caracterizada por um declínio progressivo das funções cognitivas que afetam a vida diária das pessoas.

De acordo com o Ministério da Saúde, em 2019, o país contava com 1,8 milhão de pessoas que viviam com demência.

De acordo com o Ministério, o número de casos mais do que triplicará até 2050. A projeção é de 5,7 milhões de diagnósticos.

Os valores foram obtidos com base nas projeções do Estudo Carga Global de Doença, ou GBD. Os dados constam no Relatório Nacional sobre a Demência, publicado pelo Ministério da Saúde em setembro de 2024. Consulte a versão completa (PDF – 5 MB).

Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), publicada na revista The Lancet Global Health em outubro do ano passado, indica que 54% dos casos de demência na América Latina poderiam ter sido evitados. A íntegra da pesquisa está disponível em inglês (PDF – 704 kB).

A pesquisa avalia 12 fatores de risco para a população do continente sul-americano:

Em agosto de 2024, a comissão de demência da revista The Lancet adicionou dois fatores modificáveis para a população geral: colesterol elevado e perda de visão não corrigida. O link para assinantes está disponível aqui.

Fonte por: Poder 360

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