Texas aloca 50 milhões de dólares para a pesquisa com psicodélicos

O investimento do Texas em ibogaína, ao mesmo tempo em que tenta proibir canabinoides psicoativos, foi discutido nos bastidores do Psychedelic Science 2…

24/06/2025 11h17

3 min de leitura

Imagem PreCarregada
(Imagem de reprodução da internet).

Em segredo, a Psychedelic Science 2025 viu a ibogaína ser o tema central das discussões: o Texas planeja investir 50 milhões de dólares em pesquisas com a substância. O estado mais conservador dos Estados Unidos tornou-se um símbolo de uma das maiores contradições da política de drogas contemporânea, ao financiar substâncias psicodélicas experimentais e, ao mesmo tempo, proibir todos os derivados psicoativos de cannabis.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A proposta de investimento na ibogína foi aprovada sem grande repercussão, inserida em um conjunto de medidas legislativas relacionadas à saúde mental de militares e policiais. O documento estabelece a formação de um consórcio público-privado para analisar os efeitos da substância no tratamento de transtornos, incluindo transtorno de estresse pós-traumático, depressão grave e dependência de opioides, particularmente em veteranos.

Concomitantemente, outro projeto avançava rapidamente no Legislativo texano, buscando proibir todos os canabinoides com efeito psicoativo, incluindo delta-8 e delta-9 THC, mesmo em versões derivadas do cânhamo e já legalizadas desde 2018. A justificativa do Senado foi “proteger menores e conter abusos no comércio informal”. A aprovação ocorreu de forma acelerada, com apoio majoritário na Câmara e no Senado.

LEIA TAMBÉM:

O governador Greg Abbott vetou o projeto na última hora da sexta-feira (22.jun.2025), argumentando que o texto violava a Farm Bill federal e criaria espaço para contestações. Em vez do veto, prometeu uma regulamentação com foco em limites de potência, exigência de rótulos e controle de idade, seguindo o modelo da legislação de bebidas alcoólicas. O vice-governador Dan Patrick acusou Abbott de “legalizar na prática” os canabinoides, prometeu reverter o veto e convocou uma ofensiva política para julho.

O confronto evidencia divisão interna no Partido Republicano do Texas: por um lado, a vertente libertária e liberal nos costumes, que considera a cannabis como uma chance econômica e terapêutica; do outro, os ultraconservadores, que vinculam qualquer política de redução de danos à permissividade moral.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A contradição se intensifica quando o mesmo Estado impede a venda de produtos derivados do cânhamo, ao mesmo tempo em que investe milhões em uma substância psicodélica potente, de origem africana, que ainda é ilegal nos EUA.

A ibogaina é um alcaloide natural extraído da raiz da Iboga, uma planta do Gabão. Utilizada há séculos em rituais de cura, provoca visões intensas e necessita de acompanhamento clínico rigoroso.

A planta apresenta resultados promissores no tratamento de dependências e transtornos mentais, mas ainda está em fase de pesquisa.

Concomitantemente, o Texas enfrenta a regulamentação da cannabis medicinal de baixo teor de THC, com potencial para o desenvolvimento de produtos farmacêuticos.

A política de drogas do Texas demonstra mais interesse em estratégia eleitoral do que em ciência. Ao priorizar a ibogaína, o governo se concentra em uma substância com ressonância entre veteranos e policiais, grupos importantes na base republicana. Ao combater a cannabis, transmite uma mensagem de força moral contra uma planta ainda estigmatizada, mesmo que o delta-8 não produza alucinações e apresente menor potencial de dependência em comparação com o álcool.

O paradoxo também é econômico. A indústria do cânhamo emprega mais de 50 mil texanos e gera US$ 8 bilhões por ano. Já a pesquisa com ibogaina não produz receita imediata, mas atrai doações, prestígio acadêmico e apoio de celebridades como Tim Ferriss e Joe Rogan, uma escolha entre o mercado popular e o capital intelectual.

O Texas se consolida como um laboratório da guerra cultural americana, com uma bandeira ambígua: psicodélicos sim, cannabis não. Pesquisa de alto nível sim, tratamento popular não.

Em curto prazo, os texanos precisarão lidar com dois movimentos simultâneos: a consolidação da ibogaina como símbolo da nova psiquiatria e o cerco à cannabis como fantasma da velha guerra contra as drogas.

Fonte por: Poder 360

Utilizamos cookies como explicado em nossa Política de Privacidade, ao continuar em nosso site você aceita tais condições.