Trump alcançou as metas estabelecidas para os primeiros cem dias de seu mandato?
29/04/2025 às 9h59

O segundo mandato presidencial de Donald Trump iniciou-se em 20 de janeiro de 2025. Diversas mudanças significativas na política dos Estados Unidos ocorreram desde então, tornando difícil acreditar que somente passaram-se 100 dias. Houve alterações drásticas, da política externa à imposição de tarifas sobre produtos importados. A Casa Branca tornou-se uma fonte constante de “notícias urgentes”.
“Não faz diferença de qual lado você esteja: acho que a maioria concorda que a situação está bastante instável”, comenta Patrick Malone, professor do Departamento de Administração e Políticas Públicas da American University de Washington. “Ele definitivamente começou atirando em várias direções.”
A estratégia por trás desse acionismo consiste em inundar o cenário com notícias e decretos presidenciais, buscando impactar a oposição, gerando paralisia, e enfraquecendo os fundamentos da democracia americana.
Cidadãos que divergem da nova orientação trumpista se sentem inseguros para organizar qualquer tipo de protesto. É para se manifestar contra o total descaso do presidente pelas mudanças climáticas e seus planos de intensificar a extração de petróleo? Ou contra a forma como ele está minando a separação de poderes, em meio à presença de imigrantes e suas revelações das ordens de juízes federais?
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Talvez se protestasse pelas limitações à liberdade de imprensa, com o veto às coletivas de imprensa da Casa Branca, ou contra o ataque à liberdade de expressão, ao serem reduzidas as verbas federais para universidades e pesquisadores.
O segundo governo Trump está polarizando os Estados Unidos como nunca. Contudo, durante este cenário, é pertinente questionar: de entre as promessas feitas aos seus apoiadores antes da eleição de novembro de 2024, quantas Trump realmente está cumprindo?
Fim da guerra na Ucrânia.
Em maio de 2023, em New Hampshire, Trump declarou que, se eleito, cessaria imediatamente a guerra da Rússia contra a Ucrânia: “Eles estão morrendo, russos e ucranianos. Eu quero que eles parem de morrer. E vou conseguir isso, vou conseguir dentro de 24 horas.”
A realidade é que o republicano precisa reconhecer que não resolveu o conflito. Seu governo está atuando de forma isolada em busca de uma solução, sem o apoio de aliados tradicionais do país, e com benefícios para a Rússia em detrimento da Ucrânia. Já durante sua primeira ligação oficial com Vladimir Putin, Trump fez diversas concessões aos argumentos de Moscou, embora se trate de uma potência invasora.
Durante sua visita à Casa Branca em 28 de fevereiro, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, foi tratado como “ingrato” por Trump e seu vice, JD Vance. Em decorrência desse incidente, foi suspenso o auxílio militar ao país invadido, embora este tenha sido retomado posteriormente.
Recentemente, Trump criticou Kiev por insistir que a península da Crimeia – anexada ilegalmente pela Rússia em 2014 – seja considerada parte do território ucraniano, em vez de simplesmente entregá-la ao inimigo, com o objetivo de acelerar a paz. Para aqueles afetados pela guerra que já se prolonga há mais de três anos, essa mudança repentina do principal apoiador foi um choque.
Não se trata apenas dos ucranianos. Também os parceiros ocidentais dos EUA estão preocupados: onde Trump deposita realmente sua lealdade? Ele questionou a participação americana na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), ameaçando até mesmo deixar de defender de uma eventual ofensiva russa os Estados-membros que, em sua opinião, não investem o suficiente na própria defesa. Apesar de mais tarde ter retirado essa declaração, para as nações europeias está mais do que claro que não podem mais confiar nos EUA como antes.
Eliminar os criminosos violentos.
A política de imigração foi um dos temas centrais da campanha eleitoral trumpista. Em um evento em Nova York, em outubro de 2024, ele declarou que, se eleito, implementaria o maior programa de deportações da história dos EUA, prometendo “colocar esses criminosos perversos e sanguinários na cadeia e expulsá-los do nosso país o mais rápido possível”.
Realmente, até o momento seu programa de deportações tem sido notavelmente rápido: já em fevereiro, o governo expulsou aproximadamente 11 mil migrantes. Em contrapartida, em fevereiro de 2021, o primeiro mês do governo do democrata Joe Biden, essa quantidade foi de 12 mil. Adicionalmente, conforme a emissora NBC News, sob Trump houve uma redução no número de pessoas que tentam atravessar a fronteira sul dos EUA com o México.
Malone afirma que Trump tornou a imigração significativamente mais difícil: “Alguns consideram isso um sucesso, enquanto outros não o veem como consistente com os valores americanos.”
América retorna à economia.
Trump assegurou que a economia dos Estados Unidos apresentaria melhorias durante sua gestão. Uma das frases de campanha era “tornar a América pagável novamente”, com a promessa de que os preços diminuiriam desde o primeiro dia de seu governo. Houve redução em produtos específicos, como gasolina, além de diminuição nos custos de passagens aéreas e reservas de hotéis. A inflação também apresentou queda.
Em paralelo, gasolina e alimentos apresentaram aumento de 2,8% em relação a março de 2024, contudo trata-se do menor incremento em quatro anos, afirma a agência de notícias AP. “As políticas do presidente Trump estão funcionando para manter a inflação baixa”, assegurou Stephen Miran, presidente do Conselho de Consultores Econômicos da Casa Branca, em entrevista à emissora CNBC. “Entre isso e o que está acontecendo com o comércio: a América está de volta.”
Para a maioria dos americanos, fazer compras no supermercado ainda é tão caro quanto 100 dias atrás: os gastos semanais para duas pessoas podem exceder US$ 150 dólares (aproximadamente R$ 854), mesmo em regiões com preços mais baixos, fora das grandes cidades.
Tarifas cumpridas são causa de preocupação?
Após a eleição, Trump anunciou que encerraria a política de “fronteiras ridiculamente abertas” e o déficit comercial americano. Em abril, o governo implementou uma série de tarifas alfandegárias sobre os produtos importados aos EUA. Assim fez.
Isso, contudo, eleva o custo de certos produtos para os consumidores americanos, além de prejudicar as relações comerciais. Uma pesquisa do instituto Pew Research Center revelou que a população atualmente avalia a situação econômica do país e o futuro de forma mais crítica do que em fevereiro, antes do anúncio das sobretaxas.
Em dado momento, 40% dos entrevistados esperavam uma melhora na economia do país nos próximos doze meses, enquanto 37% previam que as condições se agravariam. Em abril, essa proporção se inverteu, com 36% expressando otimismo e 45% manifestando ceticismo.
Governança imprevisível
A insegurança pode estar relacionada ao fato de que a administração trumpista suspende ou implementa tarifas com a mesma rapidez. Segundo Malone, essa alternância prejudica um elemento fundamental de qualquer governo eficiente: a estabilidade. “Os primeiros 100 dias foram um turbilhão, mas não só no sentido do avanço”, sintetiza o diá.
A inconsistência não se limita às taxas de importação, mas também ocorre nas demissões em diversos setores do governo. Inicialmente, houve demissões em massa, contudo, alguns funcionários foram posteriormente readmitidos em áreas como aviação e segurança nuclear.
“É uma forma muito difícil de tocar um governo”, comenta Malone. “Todos os governos querem consistência, previsibilidade e se mover lentamente. E isso não é o que se tem agora.”
Para obter mais informações, acesse a matéria da Deutsche Welle, parceira do Metrópoles.
Fonte: Metrópoles