Veja os perigos de usar o Zolpidem incorretamente, incluindo alucinações e sonambulismo
30/01/2024 às 15h45
Quando tinha cerca de 15 anos, Manuela Belardi, que agora tem 26 anos, estava na praia com uma amiga. As duas estavam deitadas e conversando. De repente, a amiga de Manuela fica confusa e pergunta: “Manu, você está rindo ou chorando?”.
Ela não entendeu direito a pergunta da amiga e decidiu levantar da cama para beber água. Quando chegou na cozinha, lembrou-se de ter derramado água no chão e resolveu escrever um bilhete avisando para tomar cuidado com o chão molhado. Ao olhar pela janela, viu um tigre passando na rua do condomínio.
Então, nessa hora eu percebi que o Zolpidem não estava me fazendo muito bem. Notei que eu estava tendo alucinações mesmo. Não tinha derrubado nem uma gota de água e, é claro, não tinha passado nenhum tigre.
Mudar os móveis de lugar, enviar mensagens confusas por texto, fazer compras estranhas na Internet, decidir cozinhar uma refeição completa durante a madrugada e até mesmo testemunhar um tigre atravessando a rua são apenas algumas das histórias bizarras relatadas por pessoas que tomam Zolpidem, um remédio para insônia.
O Zolpidem é um remédio que faz parte dos hipnóticos. Ele ajuda a induzir o sono e deve ser usado por um curto período.
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As vendas do remédio aumentaram no Brasil durante a pandemia de Covid-19, devido ao aumento de casos de ansiedade e depressão, que podem causar problemas para dormir.
De acordo com a Anvisa, em 2018, foram vendidas aproximadamente 13,1 milhões de caixas de Zolpidem no Brasil. Mas, em 2022, essa quantidade aumentou exponencialmente para cerca de 21,9 milhões de caixas, representando um aumento de 67% nas vendas.
Segundo Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono, o número de usuários aumentou bastante no último ano, com um aumento ainda maior no Brasil em comparação com o resto do mundo. O consumo cresceu de forma bastante rápida. Os médicos começaram a prescrever esse medicamento porque acreditavam que não causaria dependência ou abuso.
Segundo a pesquisadora, após o aumento das prescrições médicas, tanto o acesso ao medicamento quanto a prescrição sem acompanhamento aumentaram. Isso facilita a ocorrência de efeitos colaterais como sonambulismo, perda de memória e alucinações.
Sono imediato
Segundo Elton Kanomata, psiquiatra do Hospital Albert Einstein, uma das razões para o aumento no uso do medicamento é o fato de que ele causa sono rapidamente. Isso pode ser útil para tratar a insônia sem necessariamente ter que lidar com problemas comportamentais, como hábitos e rotinas que podem atrapalhar o sono.
Por isso, seu uso é mais indicado para aqueles com insônia ocasional ou transitória.
“Para aquelas pessoas com insônia crônica, ou seja, de longa data, [Zolpidem] pode até ser utilizado inicialmente, mas o uso não é recomendado por mais de um mês. Isso exatamente por entender que nesses casos seria necessário um tipo de tratamento que envolva mudanças comportamentais, que seria o padrão ouro para tratamento de insônia crônica”, afirma Kanomata.
Poyares concorda que dormir com pressa não é uma boa ideia.
Kanomata afirmou que não é recomendado tomar este medicamento por mais de um mês, pois pode causar dependência.
O paciente vai se tornando cada vez mais resistente ao medicamento e decide, por conta própria, tomar doses maiores do que as recomendadas para tentar atingir o mesmo efeito.
O uso exagerado do remédio sem seguir as orientações médicas pode causar efeitos colaterais preocupantes no Zolpidem.
Eventuais reações adversas+/repercussões secundárias que possam surgir como consequências.
Alguns efeitos colaterais do Zolpidem incluem sonambulismo, alucinações e amnésia. A amnésia pode acontecer quando o indivíduo toma o medicamento e não se lembra de nada após, porém ainda consegue interagir com o mundo e pode ter um comportamento estranho.
Esses são os principais efeitos que causam as várias “histórias de Zolpidem” que aparecem às vezes nas redes sociais. Essas histórias podem até ser engraçadas, mas são um sinal de que o medicamento está sendo usado de forma irresponsável, sem acompanhamento médico e sem seguir as instruções recomendadas.
“A orientação que nós damos aos nossos pacientes é que a pessoa deixe todo o ambiente já apropriado para induzir o sono e que ela tome o remédio já ao se deitar, com tudo pronto para dormir. Luzes apagadas, ambiente silencioso”, recomenda Elton Kanomata. “Caso isso não seja feito e a pessoa continue realizando suas tarefas e atividades, a medicação faz com que ela tenha essa indução do sono, podendo gerar um estado de sonambulismo e a pessoa continua realizando as atividades sem tomar ciência disso.”
O psiquiatra acrescenta: “O Zolpidem, assim como qualquer outro medicamento, é seguro quando bem indicado. Sabendo prescrever bem e seguindo as orientações adequadas com relação ao uso, diminui substancialmente qualquer risco que essa medicação possa apresentar.”
A pesquisadora do Instituto do Sono destaca que se o paciente estiver tendo efeitos colaterais repetidamente ou se perceber que está ficando mais resistente ao medicamento, a melhor opção é buscar um médico para trocar de remédio. Hoje em dia, há várias alternativas de tratamento disponíveis.
Há sinais que indicam problemas, como aconteceu comigo. Eu costumava tomar uma medicação e estava tudo bem, até que comecei a acordar no meio da noite e precisei tomar duas para conseguir voltar a dormir. Isso é um sinal de que você precisa mudar a medicação”, explica Poyares.
Manter uma boa higiene do sono é importante para garantir uma noite de sono tranquila e revitalizante para o nosso corpo e mente. Algumas dicas que podem ser seguidas para promover uma higiene do sono adequada incluem estabelecer horários regulares para dormir e acordar, evitar o consumo excessivo de cafeína e álcool antes de dormir, criar um ambiente propício para dormir.
Para todos que apresentam quadros de insônia ou não, cuidar dos hábitos antes de dormir é fundamental para uma boa noite de sono.
A chamada higiene do sono consiste em hábitos que podem ajudar os indivíduos a terem um sono de qualidade e até mesmo a evitar a insônia.