O brasileiro reconhece há décadas e possui grande variedade de cervejas sem álcool. Recentemente, surgiram destilados sem álcool, inclusive produzidos no Brasil, como o Gin. Contudo, nos últimos anos, o mercado nacional tem experimentado uma expansão na oferta (e consumo) dos vinhos sem álcool, “desalcoolizados”.
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A realidade é que os vinhos sem álcool têm conquistado cada vez mais espaço no mercado global e, nos últimos anos, evoluíram de curiosidade enológica para uma categoria superior e promissora. Apesar ainda existirem certo ceticismo por parte dos apreciadores mais tradicionais, os avanços tecnológicos e o aumento da procura por opções mais saudáveis estão consolidando sua presença em vinícolas e em mesas ao redor do mundo.
A produção de vinhos sem álcool inicia-se de maneira semelhante aos vinhos tradicionais: colheita das uvas, fermentação alcoólica e vinificação convencional. A diferença crucial se manifesta no final do processo, quando o álcool é removido por métodos tecnológicos como a “destilação a vácuo” (ou desalcoloração por vácuo), que elimina o álcool em baixas temperaturas para preservar aromas e sabores; a “osmose reversa”, pela qual o álcool é separado por meio de membranas filtrantes, mantendo a estrutura líquida restante; ou a “stripping por arraste de vapor”, que extrai o álcool através de vapor, sendo menos delicada e, menos utilizada em vinhos de maior qualidade. Após a remoção do álcool (reduzido a menos de 0,5% ABV), o vinho é ajustado com correções de acidez, taninos ou adoçantes naturais, para manter um mínimo de complexidade sensorial.
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Diversas castas podem ser utilizadas para vinhos sem álcool, porém certas uvas apresentam melhor resultado após a desálcoolação, em razão de sua acidez natural, expressão aromática ou estrutura. Isso se aplica às tintas Grenache, Cabernet Sauvignon, Syrah e Tempranillo, e às brancas Chardonnay, Muscat e Sauvignon Blanc.
A desalcolização impacta a estrutura dos vinhos, com a remoção do álcool resultando na perda de complexidade. No entanto, os taninos, provenientes da casca da uva, permanecem. A percepção dos taninos pode ser reduzida pela falta de álcool como solvente. A acidez pode ser mantida, mas frequentemente é ajustada após a desalcolização. Vinhos sem álcool não envelhecem da mesma forma que os tradicionais, devido à sua deterioração, sendo destinados ao consumo rápido, geralmente em um a dois anos após o engarrafamento.
Existe uma oferta razoável desses vinhos no Brasil, podendo ser encontrados facilmente em prateleiras de supermercados ou sites especializados. Sugiro provar os seguintes: Vinoh Branco Moscato Select, nacional e com estilo seco, mas bem agradável; o Cero Coma Branco, espanhol, com aromas frutados; o Freixenet Rose, produzido na Alemanha pela Henkell, especialmente para a vinícola espanhola, sendo um vinho totalmente vegano. Dos tintos, recomendo o Natureo Tinto Garnacha Syrah, produzido pela Família Torres, na Espanha, e que é bem gastronômico; também sugiro o nacional Despido Tinto Seco, que tem sido muito bem recebido pelos consumidores. Outro tinto nacional bacana é o Vinoh Tinto Cabernet Select; e um espumante, dos muitos que têm sem álcool, que recomendo é o Garibaldi Prosecco Branco, que, mesmo sendo demi-sec, quando bem refrescado, não enjoa.
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As perspectivas para os vinhos sem álcool no Brasil são positivas. O consumidor brasileiro está mais atento à saúde, à moderação no consumo e à diversidade de opções. A entrada de rótulos importados vem despertando o interesse de produtores nacionais. O aprimoramento tecnológico é o caminho para o sucesso da categoria: novas técnicas de desalcolização menos invasivas, uso de leveduras especiais, ajustes enológicos finos e melhor controle da acidez e dos taninos podem oferecer vinhos sem álcool cada vez mais sofisticados.
É importante notar que o futuro do vinho sem álcool não é substituir o vinho tradicional, mas sim coexistir com ele como uma alternativa válida – saudável, segura e saborosa.
Fonte por: Jovem Pan