A atuação do grupo Brics e o receio em relação à mediação: a presença de Lula no ‘Dia da Vitória’ na Rússia
O presidente se encontra em Moscou, acompanhado por Putin, buscando convencer as potências europeias de que o Brasil possui condições para atuar como mediador no término do conflito.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontra na Rússia, em Moscou, para assistir às celebrações do “Dia da Vitória”. A data comemora os 80 anos da vitória das tropas soviéticas sobre a Alemanha nazista, e representa, neste ano, uma demonstração de força do presidente Vladimir Putin.
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Ao lado de Lula e do presidente da China, Xi Jinping, Putin busca demonstrar que o chamado Sul Global, com o Brics como principal instância, está coeso. Líderes de países como Sérvia, Eslováquia, Indonésia e Cuba também participarão da celebração.
Em Moscou, os preparativos para a data já indicavam que a festa foi organizada para impressionar. Nas ruas da capital russa, imagens de soldados que morreram em conflito durante a I Guerra Mundial podiam ser vistas por todo lado. “Nós nos lembramos e nós nos orgulhamos”, são os dizeres que acompanham as fotografias de cunho heroico.
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O “Dia da Vitória” deste ano não é mais uma data comemorativa. Além de ser o feriado mais importante da Rússia, o dia 9 de maio de 2025 ocorre em um momento de definição do conflito iniciado em fevereiro de 2022 entre a Rússia e a Ucrânia. Nesse contexto, o papel do presidente Donald Trump, que promove um acordo de paz considerado benéfico ao Kremlin pelos ucranianos e pelo Ocidente, ganha relevância.
Contudo, o clima de guerra faz parte do passado e do presente. Nos dias que antecederam a data, o governo russo decidiu bloquear os sinais de celular dos usuários, por medida de segurança. A Rússia teme mais uma investida ucraniana, principalmente aquela feita através de drones. Estações de metrô da capital russa passaram dias fechadas ou funcionaram apenas parcialmente.
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Lula busca posicionar o Brasil como um mediador.
As presenças de Lula e Xi Jinping no “Dia da Vitória” deste ano têm peso, as ausências também não deixam de chamar a atenção. As principais lideranças europeias não estiveram na capital russa, o que era esperado. Reino Unido, França e Estados Unidos, atores centrais na aliança feita com a antiga União Soviética para derrotar o delirante projeto de Adolf Hitler, não mandaram representantes. Neste momento histórico, a ausência diz menos sobre o passado e mostra o grau de contrariedade dessas potências com os riscos representados por Putin.
Luiz Inácio Lula da Silva buscou ser o elo entre a Rússia e a Ucrânia, visando mediar um acordo de paz entre os dois países. Essa iniciativa foi tentada pelo próprio presidente brasileiro após sua volta ao poder, em 2023, porém foi rejeitada por Volodymyr Zelensky, que considerou a proposta de Lula insuficiente em termos de imparcialidade.
Lula voltou a defender o encerramento da guerra, agora por meio de uma comunicação mais direta com Putin. Na entrevista publicada pela The New Yorker, o ex-presidente afirmou ter conversado com o presidente russo nas últimas semanas, solicitando que ele “retorne à política”.
Lula contatou Putin e declarou: “Putin, acredito que é hora de você retornar à política. Coloque fim a isso [na guerra na Ucrânia]. O mundo precisa de política, não de guerra”. O evento ocorreu na quinta-feira, 8, com a presença da primeira-dama Janja.
Lula não abre mão de seu desejo de contribuir para o fim do sangramento no leste europeu, mas a viagem desta semana abre espaço para críticas. Tanto de origem local quanto externa. A principal desconfiança em relação à ida de Lula se relaciona com as comemorações do Dia da Vitória, em um momento histórico tenso, e se baseia na questão de como ele será capaz de persuadir potências ocidentais de que o Brasil possui condições de atuar como mediador no conflito, considerando que ele deliberadamente se posicionou ao lado de Putin e de outras lideranças autoritárias em Moscou.
Essa ação não é isolada. Trata-se de uma tentativa de ação coordenada através do BRICS. Não por acaso, o itinerário de viagem de Lula indica que seu próximo destino será a China, com Xi Jinping.
Fonte: Carta Capital