A devastação das florestas tropicais intocadas no mundo registrou um pico em 2024, em relação aos últimos 20 anos, com uma deterioração acentuada no Brasil e na Bolívia, onde se concentra dois terços da área perdida, conforme um estudo publicado nesta quarta-feira, 21.
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O relatório publicado pela Global Forest Watch em parceria com a Universidade de Maryland atribui o declínio em grande parte aos incêndios, que se tornaram mais intensos e violentos em razão das mudanças climáticas.
Em 2023, o planeta perdeu 67.000 quilômetros quadrados de florestas tropicais primárias, o que corresponde a aproximadamente a área do Panamá.
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O número, que registra um aumento de 80% em relação a 2023, corresponde a “perda de 18 campos de futebol por minuto”, afirmou Elizabeth Goldman, pesquisadora do Global Forest Watch.
No Brasil, houve perdas de 2,8 milhões de hectares (28.000 quilômetros quadrados) e na Bolívia de 1,5 milhão de hectares (15.000 quilômetros quadrados).
Goldman declarou que este nível de desmatamento florestal não possui precedentes em mais de 20 anos de dados. Acrescentou que é um alerta vermelho em nível global.
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Os incêndios são responsáveis por quase metade das destruições, o que implica que, pela primeira vez, o fogo ultrapassa a agricultura como principal causa de perdas em florestas.
Esses ecossistemas apresentam as maiores concentrações de biodiversidade e são os ambientes mais ameaçados do planeta. Seu papel é fundamental na absorção de CO2, o principal responsável pelo aumento das temperaturas.
A destruição acumulada em 2024 equivaleu a 3,1 bilhões de toneladas de CO2 liberadas na atmosfera, um valor superior às emissões associadas ao setor energético na Índia.
O país enfrenta dificuldades econômicas e políticas.
Os incêndios foram favorecidos por condições extremas que os tornaram mais intensos e difícil de controlar, afirmam os autores da pesquisa.
Devido às mudanças climáticas, causadas pela queima em larga escala de combustíveis fósseis e ao fenômeno climático El Niño, o ano de 2024 registrou a maior temperatura já observada no planeta.
O incêndio pode ser de origem natural, porém a grande maioria dos casos foi causada por ações humanas para remover áreas de vegetação.
A derrubada de vegetação para a expansão da agropecuária, historicamente a principal razão da destruição, ocupa a segunda posição, porém continua sendo um fator relevante.
No Brasil, dois terços dos 2,8 milhões de hectares foram perdidos devido a incêndios, frequentemente utilizados para preparar áreas para o plantio de soja ou para atividades pecuárias.
Em 2023, o Brasil alcançou avanços notáveis na diminuição da destruição de sua floresta, no primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Entretanto, o progresso é ameaçado pela expansão da agricultura”, declarou Sarah Carter, pesquisadora do World Resources Institute (WRI), com sede em Washington.
A Amazônia brasileira sofreu o maior nível de destruição desde 2016.
Os dados divergem da medição realizada pela rede de monitoramento brasileira MapBiomas, que na semana passada apontou uma redução significativa do desmatamento em 2024.
A proteção das florestas é um tema central na agenda da COP30 da ONU, que o Brasil receberá em novembro na cidade de Belém.
Novas ameaças
Em 2024, a Bolívia ocupa a segunda posição entre os países com a maior área de florestas tropicais devastadas, um terço superior ao registrado em 2023.
Ademais, essa reversão é explicada por grandes incêndios frequentemente provocados para destinar a terra a explorações agrícolas industriais, conforme o relatório.
Em outras regiões do planeta, a evolução é desigual: avanços em países como Indonésia ou Malásia, mas retrocesso significativo no Congo ou na República Democrática do Congo.
Historicamente, a pressão sobre esses ecossistemas responde à exploração de quatro produtos, denominados “big four”: óleo de palma, soja, carne bovina e madeira.
O progresso positivo em certos setores, como o da soja, acompanha o surgimento de novos desafios, como os abacates no México ou o café e o cacau.
Rod Taylor, diretor do programa de florestas do WRI, ressaltou que as causas do desmatamento não são sempre uniformes.
Observa-se um novo fenômeno relacionado à indústria da mineração e aos metais críticos, alertou, ao solicitar uma estratégia global para lidar com o problema.
Fonte: Carta Capital