Autoras negras do Distrito Federal ocupam o Museu Nacional com recital, feira e apresentações de livros

O evento ocorrerá no sábado (26), como parte da programação do Festival Latinidades.

23/07/2025 16h59

4 min de leitura

Imagem PreCarregada
(Imagem de reprodução da internet).

No mês em que a primeira mulher negra foi eleita para a Academia Brasileira de Letras, o Distrito Federal recebe a quinta edição do evento Julho das Pretas que Escrevem, encontro literário que visa demonstrar o poder transformador da palavra e o protagonismo das mulheres negras na literatura.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

No âmbito do programa do Festival Latinidades, o evento celebra o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Com uma programação voltada para a valorização da produção literária, a atividade será realizada no próximo sábado (26), no Museu Nacional da República.

Fundado em 2021, com aproximadamente 20 mulheres, o coletivo Julho das Pretas que Escrevem no DF atualmente conta com mais de 70 autoras negras, cujas produções abrangem da poesia ao romance, da crônica ao infantojuvenil, incluindo textos acadêmicos convertidos em obras literárias. O grupo promove anualmente um encontro para reunir mulheres negras que escrevem ou almejam escrever, publicadas ou não, e profissionais da cadeia produtiva do livro.

LEIA TAMBÉM:

Em 2024, a ação se realiza no mesmo mês em que a escritora Ana Maria Gonçalves assume a ABL, sendo a primeira mulher negra a integrar a instituição. O evento propõe, assim, o fortalecimento de conexões entre autoras do Distrito Federal, além de buscar ampliar a visibilidade da produção literária local.

Waleska Barbosa, escritora, jornalista e idealizadora do projeto, ressalta que o abraço do Festival Latinidades reforça a visibilidade do evento e sua abrangência. “Este grande encontro é importante para dar visibilidade ao trabalho das mulheres que desenvolvem uma luta antirracista por meio da literatura”, afirma.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Para Barbosa, a literatura produzida por mulheres negras representa uma resposta política aos séculos de silenciamento. “Sabemos como tem sido historicamente difícil para a mulher colocar sua voz na literatura, publicar, ser lida”, completo.

Afrofuturismo

Em 2025, o evento alcança sua quinta edição com o tema “Escrever o Afrofuturol”, evidenciando perspectivas da literatura negra em relação ao futuro e à ancestralidade. Organizado pelo coletivo homônimo e idealizado pela jornalista e escritora Waleska Barbosa, a proposta contempla atividades direcionadas a diversas faixas etárias, com ênfase nas meninas negras.

A seleção do afrofuturismo como eixo desta edição reforça a noção da palavra como uma tecnologia ancestral e de reinvenção do futuro. “Agora, mais de 120 anos após a criação da ABL, temos uma mulher negra integrando esse cenário. Então, é também uma forma de contribuir para a valorização da mulher negra como alguém que faz e usa a palavra como uma tecnologia de sobrevivência, de existência”, defende idealizadora.

O programa inclui homenagens, um sarau, rodas de conversa, lançamento de livros e feira de obras literárias produzidas por mulheres negras. Dentre os lançamentos estão Oralidade agora se escreve, organizado por Lia Vieira, Ipê§ não são domesticáveis, de Waleska Barbosa, e Ananse, de Nanda Fer Pimenta.

Homenageados

O Encontro Julho das Pretas que Escrevem no DF celebra mulheres negras cujas trajetórias estão ligadas à palavra, seja na forma escrita ou falada. Em 2025, quatro personalidades serão homenageadas por suas contribuições à literatura, à comunicação e à cultura popular no Brasil.

A escritora Andressa Marques, doutora em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB), fará parte das homenageadas. Autora do romance A Construção, obra premiada no Toca Literária, Andressa tem se destacado por sua atuação acadêmica e literária, sendo integrante da nova geração de romancistas negras brasileiras.

A jornalista e escritora Ramília Moura também será homenajada. Com atuação no jornalismo e na literatura, é autora do livro Antes que o ano acabe, publicado em 2020, e tem participado de diversas coletâneas de poesia e conto. Sua escrita, que se origina das experiências pessoais e coletivas, concentra-se nas vivências de mulheres negras.

A jornalista investigativa Juliana César Nunes também será homenageada nesta edição, sendo uma das fundadoras da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Distrito Federal (Cojira-DF). Ao longo de sua carreira, recebeu prêmios como o Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e o Tim Lopes de Jornalismo Investigativo.

Mestra Martinha do Coco integra o grupo de homenageadas, devido à sua trajetória voltada à cultura popular. Cantora, compositora e brincante, é reconhecida pelo trabalho com ritmos como o coco, maracatu e ciranda, criando o que se denomina “Coco do Cerrado”. Sua produção musical se destaca pela oralidade e por temas relacionados à ancestralidade, ao território e à resistência cultural.

Para a poeta Kaju, presente desde a primeira edição, o evento é mais que um encontro literário: é um abraço coletivo, um respiro de autoestima em um mundo que ainda marginaliza a mulher negra. “Faz a gente se sentir menos sozinha como escritora. Eu amo, me sinto viva e próspera”, declara a poetisa.

A expectativa, conforme Barbosa, é que o evento permaneça um ambiente propício para encontros e intercâmbios transformadores. “Estamos homenageando cinco mulheres e a expectativa é que possamos realizar muitas trocas, que o sarau seja muito potente, que o público venha nos conhecer, conhecer essas obras. É um convite que estamos fazendo há cinco anos à população do DF”, finaliza.

Receba notícias do Brasil de Fato DF no seu WhatsApp.

Serviço

26 de julho de 2025 (sábado)

Museu Nacional da República (Festival Latinidades)

Das 14h às 18h

Informações e inscrições no Instagram @julhodaspretasqueescrevemdf

Programação

14h – Abertura

14h15 – Homenagem às autoras

Lançamento de livros – 15h

15h30 – Sarau

Exposição e venda de livros durante todo o evento.

Fonte por: Brasil de Fato

Utilizamos cookies como explicado em nossa Política de Privacidade, ao continuar em nosso site você aceita tais condições.