Cientista político projeta condenações dos envolvidos no caso do golpe até o final do ano

O Supremo Tribunal Federal retomou nesta segunda-feira (28) os depoimentos do “núcleo 3” do julgamento, investigado por planejar o assassinato de Moraes.

28/07/2025 11h46

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(Imagem de reprodução da internet).

Na segunda-feira (28), o Supremo Tribunal Federal (STF) retomará os depoimentos do denominado “núcleo 3” da tentativa de golpe de Estado, formado por nove militares e um policial federal, acusados de espionar alvos e planejar um atentado contra autoridades, incluindo o ministro Alexandre de Moraes. Segundo o cientista político Paulo Roberto de Souza, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), a perspectiva de condenações se torna cada vez mais provável.

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“É inevitável que a maior parte dos envolvidos sofra alguma condenação ou sanção, isso está muito claro”, afirma, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Segundo ele, o movimento de figuras como o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Marcos Do Val (Podemos-ES) nos Estados Unidos busca “relativizar e diminuir penas”, e não impedir o processo. “A tendência é que sejam condenados nos próximos meses até o final do ano, pelo que se está apresentando no calendário”, prevê.

Os depoimentos desta fase, contudo, devem trazer poucos avanços, na visão do professor. “Estou pouco otimista de que vá sair algo significativo desses depoimentos hoje”, opina. Apesar disso, ele chama atenção para o tenente-coronel Rodrigo Bezerra Azevedo. “Ele é o maior destaque após Mauro Cid […], pode ser que traga alguma novidade, uma vez que ele está com um alvo nele”.

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Incluídos no núcleo 3, encontram-se três coronéis do Exército (Bernardo Romão Correa Netto, Fabrício Moreira de Bastos e Márcio Nunes de Resende Jr.) e cinco tenentes-coronéis (Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira, Rodrigo Bezerra de Azevedo, Ronald Ferreira de Araújo Jr. e Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros), além do agente da Polícia Federal Wladimir Matos Soares e do general da reserva Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira.

Já o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) encontra-se em uma situação delicada e seu comportamento pode influenciar as decisões do STF, segundo Souza. “Se ele persistir [tensionando], acredito que isso poderá levar necessariamente a uma prisão preventiva”, afirma, citando a recente visita de Bolsonaro ao Congresso como provocação. “Ele ainda demonstra grande apreensão, portanto, observaremos como ele se comporta, tentando evitar essa prisão”, avalia.

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Taxa de juros nos EUA: impacto no PIB paulista pode atingir 2,7%

O cientista político também comentou a tensão diplomática e econômica envolvendo os EUA e a taxação a produtos brasileiros prevista para sexta-feira (1º), sobretudo no agronegócio. Segundo ele, uma negociação ainda é possível, mas é “muito improvável” de resultar na extinção completa das tarifas.

Sugere que a taxa seja mais próxima de 50% em vez de zero, criticando o papel de parte da mídia, que estaria abandonando o discurso de defesa da soberania nacional para atender a interesses econômicos. Observa que se inicia um tensionamento, pressionando o governo federal como se ele tivesse responsabilidade sobre isso.

A declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, indica que seus efeitos devem ser sentidos sobretudo em São Paulo, onde o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) é criticado por prejudicar o Brasil com seu apoio. “Se for implementada integralmente, a expectativa é que o PIB do estado de São Paulo apresente uma queda de 2,7%”, afirma.

Apesar disso, ações do governo federal, como o plano de contingência e o Programa Acredita Exportação, podem auxiliar setores impactados a se reorganizarem. “Programas como este proporcionam um intervalo de tempo (…), uma ampliação da oportunidade para o nosso comércio, nossos exportadores se rearticularem”, afirma.

Retomada da Câmara deve intensificar disputas; foco será em IR e golpe

Com o término do recesso legislativo, Souza prevê semanas “muito interessantes”, com foco na retomada dos debates sobre a isenção do Imposto de Renda (IR) para contribuintes com renda até R$ 5 mil mensais. “É uma promessa da campanha de Lula em 2022 e pode aprimorar a imagem do governo”, afirma.

A extrema-direita, por sua vez, deve utilizar o retorno ao Congresso para tentar “salvar Bolsonaro”. Segundo ele, o debate em torno da tentativa de golpe é mais profundo do que aparenta. “Estamos disputando na sociedade brasileira quais são as linhas da Constituição”, analisa. “Até que ponto se admite que pessoas com cargos eletivos possam agir de forma como se não tivessem nenhuma responsabilidade, por um pretexto baseado em liberdade de expressão irrestrita”, complementa.

Ele acredita que o progresso será limitado no curto prazo, em razão do desalinhamento entre o Congresso e o Executivo. “O Congresso persiste nesse conflito de uma agenda própria e na necessidade de se manifestar sobre as eleições do próximo ano”, aponta.

Para audir e visualizar.

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

Fonte por: Brasil de Fato

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