Como se executa a dança do novo pagode russo?

Gonzaguinha não teve contato com Lênin ou Putin. Contudo, representa um bom exemplo de como a Rússia deseja se posicionar globalmente.

29/07/2025 13h40

3 min de leitura

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(Imagem de reprodução da internet).

Moscou, capital da Rússia, é uma cidade onde elementos naturais como sol e noite não são garantidos ao longo do ano. No verão, com temperaturas que sobem acima de 0°C, mas raramente ultrapassam 20°C, há pouquíssimas horas de escuridão.

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Entretanto, na estação oposta, é necessário se preparar para repor a vitamina D e, ainda assim, você pode se surpreender com um dia nublado, com pouca luminosidade.

As constantes são as foices, martelos e bandeiras vermelhas. Trinta e quatro anos após o início da dissolução da União Soviética, as torres construídas por Josef Stalin permanecem imponentes com estrelas rasgando o céu. A estação de metrô indica a próxima parada e também o caminho que a revolução comunista triunfou.

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Realmente, o fato de o atual presidente do país estar presente em diversos locais da cidade demonstra que ele não viveu nos anos 1980. Vladimir Putin aparece como manequim, geladeira e até mesmo como a tradicional boneca russa, a matrioska.

Eleito para governar o país pela primeira vez em 2000, permaneceu no cargo por oito anos, tornando-se primeiro-ministro e, em 2012, retornou à presidência, permanecendo no cargo desde então. Mais de 20 anos de governo o colocam como o maior líder russo após Stalin.

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O renomado Putin também é alvo de críticas internamente e por simpatizantes do regime soviético, após ter recuperado o orgulho nacional após a crise dos anos 1990.

Uma razão é, por exemplo, o Supremo Tribunal da Federação Russa ter definido o “movimento LGBT internacional” como uma “organização extremista” em 2023. Anteriormente, em 2013, o próprio Putin aprovou uma lei que proibiu a “promoção da homossexualidade para menores de 18 anos”.

Como jornalista do Brasil de Fato, tive a oportunidade de visitar a Rússia para observar essas contradições e, sobretudo, perceber a retomada de valores soviéticos por parte de Putin. Um notório exemplo é a expansão territorial através da força bélica, como se vê na Ucrânia.

Outro é o internacionalismo, o que justifica minha ida até lá. Participei de uma formação sobre rádio e podcast promovido pelo veículo Sputnik.

Fui o único latino-americano, acompanhado por mais 16 colegas da área, de países africanos, asiáticos e da Oceania. Não, não eram todos de esquerda, ao contrário. O fórum foi organizado da mesma forma que as relações de Putin, que unem Venezuela e Cuba a líderes da direita ou extrema direita de todo o mundo.

Pode ser exagerado vincular isso a um fenômeno brasileiro. Em 1947, no interior de Pernambuco, a nossa maior estrela da música popular brasileira, Luiz Gonzaga, homenageou os cossacos, povo nativo das estepes do sudeste europeu, sobretudo da Ucrânia, com a música Pagode Russo, que estabelece uma brincadeira entre o frevo e o ritmo russo do trepak.

Gonzaga não teve contato com Lenin ou Putin. Contudo, representa uma boa referência para compreender, em parte, a maneira como a Rússia deseja se posicionar no mundo.

Os instrumentos de Putin são outros, letais e destrutivos. Tudo para avançar no confronto anti-imperialista que mantém contra os Estados Unidos e a OTAN.

Se posicionar diante desse cenário só é possível reconhecendo as contradições do presidente russo. Além disso, fazendo um debate justo, que lembra as aberrações que acontecem deste lado do mundo. Por exemplo, patrocinar um genocídio em curso na Faixa de Gaza, como fazem os Estados Unidos.

Ir e voltar da Rússia é difícil pela distância, impacto do clima e do fuso horário. No entanto, é necessário para entender e tentar construir uma relação com quem propõe regras diferentes das que tanto oprimiram povos ao longo de séculos.

Tornase mais complicado quando não conseguimos, nós, que já aprendemos tanto com nossas dores, expressar o que é preciso para criar um outro futuro viável, inclusivo e respeitoso para todos. O Brasil de Fato continuará defendendo este futuro, e você pode nos ajudar apoiando nosso trabalho com apenas R$ 1 por dia.

Fonte por: Brasil de Fato

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