Consumo de alimentos ultraprocessados está associado ao aumento do risco de Parkinson, aponta pesquisa
Estudo com mais de 42 mil indivíduos aponta que o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados associa-se ao aumento de sinais iniciais da doença.

O consumo aproximado de doze porções de alimentos ultraprocessados diariamente pode aumentar em mais de duas vezes a probabilidade de desenvolver a doença de Parkinson, de acordo com um recente estudo.
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Uma porção única no estudo correspondia a 237 ml de refrigerante diet ou comum, um cachorro-quente, uma fatia de bolo industrializado, uma colher de sopa de ketchup ou 28 gramas de batatas fritas – um pacote típico contém 42 gramas.
A pesquisa indica que o consumo excessivo de alimentos processados, como refrigerantes açucarados e lanches industrializados, pode estar contribuindo para o desenvolvimento precoce da doença de Parkinson, conforme declarado pelo autor principal do estudo, Xiang Gao, professor e diretor do Instituto de Nutrição da Universidade Fudan em Xangai, China.
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Este último estudo faz parte das crescentes evidências de que a dieta pode influenciar o desenvolvimento da doença de Parkinson, afirmou Gao.
A pesquisa, conduzida sem a participação do professor Daniel van Wamelen do King’s College London, não identificou um aumento direto no risco de doença de Parkinson em indivíduos com maior consumo de alimentos ultraprocessados, embora tenha constatado uma tendência ao relato de sintomas precoces.
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O estudo não acompanhou se os participantes foram diagnosticados com Parkinson posteriormente, afirmou van Wamelen em comunicado. Dito isto, apresentar mais desses sintomas indica um risco maior ao longo do tempo.
A saúde do cérebro começa à mesa de jantar.
O estudo examinou dados de saúde e dieta de quase 43.000 participantes dos estudos Nurses’ Health Study e Health Professionals Follow-Up Study, dois projetos nos Estados Unidos que coletaram informações sobre hábitos de saúde ao longo de décadas. A idade média dos indivíduos no estudo era de 48 anos, e nenhum deles apresentava doença de Parkinson no início da pesquisa. Todos relataram sua alimentação periodicamente – uma limitação da nova pesquisa, considerando que os participantes podem não ter se lembrado com precisão de suas ingestões alimentares.
Bebidas artificiais ou açucaradas, condimentos, molhos, doces, iogurtes, pães, cereais e lanches salgados embalados foram incluídos na definição de alimentos ultraprocessados.
O estudo identificou uma relação entre os primeiros sinais da doença de Parkinson e o consumo de todos os tipos de alimentos ultraprocessados, com exceção de pães e cereais – um resultado que sugere uma característica comum a diversas classes de alimentos ultraprocessados, conforme o estudo.
O estudo aponta que alimentos ultraprocessados geralmente apresentam menor teor de fibra dietética, proteína e micronutrientes, mas contêm açúcar adicionado, sal e gorduras saturadas ou trans. Além disso, esses alimentos podem afetar o equilíbrio da flora intestinal e os aditivos podem aumentar a inflamação, radicais livres e a morte neuronal.
Com uma amostra superior a 42.800 participantes e um período de acompanhamento até 26 anos, o estudo se destaca não apenas por seu poder, mas também por seu rigor metodológico, conforme destacado pelos autores de um editorial correspondente publicado com o estudo.
O editorial foi coescrito pelo Dr. Nikolaos Scarmeas, professor associado de neurologia clínica da Universidade Columbia em Nova York, e pela nutricionista Maria Maraki, professora assistente de medicina esportiva e biologia do exercício da Universidade Nacional e Kapodistrian de Atenas, Grécia. Ambos não participaram da nova pesquisa.
A prevenção de doenças neurodegenerativas pode iniciar-se à mesa de jantar. O consumo excessivo de ultraprocessados não é apenas um fator de risco para doenças metabólicas, mas também pode acelerar processos neurodegenerativos e sintomas associados.
Os primeiros sinais costumam surgir muitos anos antes do comprometimento da função motora.
Um estudo recente, publicado na quarta-feira (7) na revista Neurology, revelou o estágio prodrômico da doença de Parkinson – sinais iniciais que surgem anos ou décadas antes dos sintomas característicos, como tremores, rigidez muscular, marcha lenta e alterações na postura.
Dores corporais, constipação, sinais de depressão, alterações na capacidade de sentir odores ou cores e sonolência excessiva durante o dia podem indicar o início da doença de Parkinson, conforme a Fundação Parkinson.
A pesquisa indica que a ocorrência de movimentos durante o sono REM, ou estágio do sono de movimento rápido dos olhos, é um sinal precoce importante. O corpo geralmente fica paralisado durante o sono REM para evitar movimentos e atuação durante os sonhos.
O estudo revelou que indivíduos que consumiam aproximadamente 11 porções diárias de alimentos ultraprocessados – em comparação com aqueles que consumiam apenas três – apresentavam uma probabilidade 2,5 vezes superior de manifestar três ou mais sinais precoces de Parkinson. Foi a primeira pessoa a ser diagnosticada com um novo distúrbio do sono. Isso resultou em um avanço científico.
O alto consumo de alimentos ultraprocessados esteve associado a um risco elevado para quase todos os sintomas, com exceção da constipação, conforme o estudo. Essa relação permaneceu válida mesmo após a análise de outros fatores, como idade, atividade física e tabagismo, que poderiam influenciar os resultados.
“O Parkinson é uma doença incurável”, declarou Gao em um e-mail. “Em nosso estudo anterior, utilizando as mesmas populações analisadas na avaliação atual, identificamos que uma alimentação saudável e a prática de atividade física podem diminuir a progressão da doença.”
Consumir menos alimentos processados e mais alimentos integrais e nutritivos pode ser uma estratégia eficaz para a saúde do cérebro.
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Fonte: CNN Brasil