Descoberta na Espanha pode ser o mais antigo registro de impressão digital do mundo

A impressão digital humana é utilizada para identificar indivíduos em várias situações, desde o acesso a portas por meio de leitores biométricos até o desbloqueio de aparelhos celulares ou na investigação de crimes. Recentemente, um grupo de pesquisadores alegou ter descoberto a impressão digital mais antiga do mundo, deixada por um neandertal há milhares de anos.

Uma equipe de pesquisadores, segundo um estudo publicado na revista Archaeological and Anthropological Sciences, identificou uma impressão digital de um neandertal datada de aproximadamente 43 mil anos atrás.

A descoberta ocorreu em 2022 no sítio arqueológico de San Lázaro, em uma região de Segóvia, na Espanha, e é considerada a impressão digital mais antiga do mundo já encontrada, confirmada por meio de análises forenses.

A equipe relata que o ser humano ancestral que realizou essa marca estava esboçando um rosto na rocha. Se confirmado, poderia ser a representação mais antiga já identificada de um rosto humano.

As impressões digitais são classificadas em um processo tríplice: pelas formas e contornos de padrões individuais, pela observação das posições dos dedos em relação aos tipos de padrões e pelo tamanho relativo, determinado pela contagem das cristas em laços e pelo traçado das cristas em espirais.

Apesar do amplo emprego ter se iniciado no último século, várias culturas antigas já utilizavam impressões digitais para outros fins. Por exemplo, na China, elas eram usadas para autenticar documentos por volta de 200 a.C.

Impressão digital “mais antiga do mundo”

A impressão digital não é visível a olho nu na pedra. A equipe empregou técnicas de mapeamento 3D com scanners de alta precisão, análises por fluorescência de raios X, microscopia eletrônica de varredura e análise multiespectral para realizar a descoberta.

Após todas essas etapas, os pesquisadores confirmaram que a marcação foi causada por um homem de neandertal adulto.

Pesquisadores consideram que a marca pode representar o nariz de um rosto esboçado há milênios, ou algo parecido com um rosto. Contudo, alguns cientistas argumentam que os neandertenses não eram reconhecidos por criar arte simbólica.

O coautor do estudo e arqueóDavid Álvarez-Alonso afirma que a descoberta aparenta ser uma representação simbólica, com a impressão digital representando um nariz. Em relação ao assunto polêmico, ele afirma que associar neandertais à arte gera muito debate, um tipo de preconceito involuntário.

Para o pesquisador, se a pesquisa tivesse revelado algo parecido produzido por um *Homo sapiens* há mais de cinco mil anos, a comunidade científica não hesitaria em considerar a descoberta como arte. Contudo, devido à origem neandertal, o assunto ainda suscita debates.

Neandertalismo ou pareidolia

Se confirmada como uma manifestação simbólica, a descoberta representaria um desafio para o conhecimento científico atual sobre os neandertais. Diversos cientistas também discordam que se trate de uma forma de arte.

Alguns especialistas defendem que a impressão digital foi gravada na rocha de maneira deliberada, embora especulem que a figura aparente pode ser fruto de pareidolia.

A pareidolia é um fenômeno psicológico que faz com que o cérebro humano identifique padrões familiares em formas aleatórias, mesmo que estes não existam realmente. Por exemplo, quando se vê uma nuvem com a forma de um rosto, isso é pareidolia.

O que a equipe inferiu sobre a representação de um nariz em um rosto pode, ao ser invertido, ser interpretado como um umbigo em uma figura humana. Rebecca Wragg Sykes, arqueóloga paleolítica que não participou do estudo, afirmou ao site Live Science: “Não podemos realmente dizer o que ‘seria’.”

Quais são os fatores que distinguem as espécies?

Os autores do estudo consideram que a ciência começará a reconhecer que o *Homo sapiens* não é a única espécie com capacidade de produzir arte.

A teoria do grupo postula que a impressão digital representa o nariz de um rosto humano, as cavidades da rocha correspondem à boca, ao queixo e aos olhos. Assim, é possível que os neandertais também tenham sido capazes de expressar sua imaginação através da arte.

Além disso, mencionam um estudo publicado na revista científica Science em 2018, que descreve pinturas rupestres descobertas em três cavernas na Espanha, sendo um dos primeiros registros desse tipo associados aos neandertais.

É relevante mencionar que foi identificada uma impressão digital possivelmente mais antiga, encontrada em 1963 no sítio arqueológico de Königsaue, na Alemanha. No entanto, a qualidade reduzida do registro dificultou análises mais aprofundadas sobre sua origem.

Estudo do DNA auxilia na compreensão do desaparecimento dos neandertais.

Fonte por: CNN Brasil