A notícia de que se atingiu a maior taxa básica de juros desde 2006 – 14,75% ao ano – reacende a questão de “Por que os juros no Brasil são tão altos?”. A ata do Copom apresenta algumas respostas. Uma delas é a necessidade de “desentupir os canais” da política monetária. Em termos simples, o Banco Central deseja que os aumentos na taxa básica de juros afetem de maneira mais direta os tomadores de crédito, diminuindo efetivamente a procura por financiamento em períodos de aperto monetário.
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Cerca de 40% do crédito no país é direcionado, com benefícios como juros subsidiados e pouca influência da taxa Selic, envolvendo iniciativas como o Plano Safra, o Pronaf, o BNDES, financiamentos imobiliários e programas de crédito para Micro e Pequenas Empresas.
Se um grupo obtém crédito a taxas menores, alguém precisa arcar com essa diferença. E esse alguém são todos que utilizam crédito, inclusive o governo, pois, para controlar a inflação, o Banco Central deve implementar um aperto significativo no crédito disponível para compensar essa parcela substancial do crédito imune à taxa Selic.
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A disparidade nas taxas de juros médias entre crédito livre e direcionado é notável: em março deste ano, as taxas anuais médias foram, respectivamente, 44% e 12,9%. Isso representa uma área prioritária de crédito para setores que evitaram o impacto da taxa básica de juros. Basta possuir a identificação adequada.
Observa que a lógica das alíquotas entre os créditos livre e direcionado é semelhante à dos benefícios da reforma tributária. No recém criado IVA, conceder um benefício a um setor implica cobrar mais de outros para garantir a arrecadação. No caso da política monetária, o acesso privilegiado ao crédito leva a que as taxas de juros gerais tenham de ser maiores para controlar a inflação. E de benefício em benefício, chegamos a um IVA total de 29% e a uma taxa de juros de 44% para quem utiliza crédito livre.
Uma das questões reside no fato de que os aumentos na taxa de juros são combatidos há anos, através de políticas de crédito direcionado, justificadas por diversos argumentos sobre seus benefícios sociais e produtivos, o que agrava o problema e impulsiona ainda mais a taxa de juros direcionada.
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É verdade que não há bala de prata contra juros altos. Contudo, um dos maiores consensos entre as gestões de Roberto Campos Neto e Gabriel Galipolo no Banco Central é que os juros continuarão elevados enquanto o crédito direcionado for tão amplamente utilizado.
Rafael Richter é economista, pesquisador e líder do Livre.
Esta publicação é uma parceria da Jovem Pan com o Livres. O Livres é uma associação civil sem fins lucrativos que reúne ativistas e acadêmicos liberais comprometidos com políticas públicas pela ampliação da liberdade de escolha.
Fonte por: Jovem Pan