Lipedema e linfedema: compreenda as distinções e como abordar o tratamento

Frequente é a confusão entre doenças, que apresentam causas e sinais clínicos distintos; especialista explica como diferenciá-las.

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(Imagem de reprodução da internet).

O lipedema e o linfedema são doenças, frequentemente confundidas devido a nomes parecidos e que, usualmente, afetam as pernas. Contudo, são condições distintas, com causas, sinais e abordagens terapêuticas diferenciados.

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Segundo Fernando Amato, cirurgião plástico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o lipedema é uma condição crônica marcada pelo acúmulo de gordura nos membros, notadamente coxas e pernas, preservando mãos e pés. A condição é mais frequente em mulheres, sobretudo após a adolescência.

A etiologia do lipedema não é totalmente compreendida, mas reconhecemos que fatores genéticos e hormonais exercem um papel central, explica Amato. Entre os fatores de risco associados, destacam-se a predisposição genética, hormônios femininos (com início ou agravamento das condições em períodos de alterações hormonais, como puberdade, gravidez ou menopausa), distúrbios de colágeno e alteração da microcirculação capilar (fluxo sanguíneo através dos menores vasos sanguíneos).

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Adicionalmente, conforme Guilherme Jonas, angiologista e cirurgião vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), o lipedema não apresenta respostas relevantes através de dietas e exercícios físicos tradicionais.

O linfedema é uma condição causada pela disfunção do sistema linfático, resultando no acúmulo de líquido rico em proteínas (linfa) nos tecidos e provocando inchaço persistente e progressivo. Pode ocorrer desde o nascimento (linfedema primário) ou desenvolver-se por danos nos vasos linfáticos, cirurgias, infecções ou traumas (linfedema secundário).

Diferentemente do lipedema, que se caracteriza pelo acúmulo de gordura e atinge predominantemente mulheres, o linfedema resulta do comprometimento do sistema linfático, pode afetar ambos os sexos e tem como uma das marcas o comprometimento dos pés e das mãos, explica Jonas. Além disso, o linfedema se manifesta, muitas vezes, de forma assimétrica, com endurecimento da pele.

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O linfedema pode ser causado por cirurgias com remoção de linfonodos ou vasos linfáticos, radioterapia, infecções recorrentes nos membros, traumas, obesidade e malformações congênitas do sistema linfático.

Quais são os sinais e sintomas do lipedema e do linfedema?

O lipedema e o linfedema frequentemente geram sintomas distintos. No primeiro caso, além do aspecto estético, há sintomas físicos relevantes, segundo Amato, os principais são:

Em estágios avançados, o lipedema pode estar associado a linfedema, em uma condição conhecida como lipo-linfedema.

O linfedema não se manifesta com dor ou sensação de peso, ao contrário do linfedema. Além disso, a pele e a camada subcutânea tornam-se mais endurecidas em fases mais avançadas da doença, conforme relatado pelo especialista.

Qual é a forma de diagnóstico e tratamento de cada doença?

O diagnóstico de lipedema é clínico, fundamentado na história do paciente, no exame físico e na exclusão de outras condições, como o linfedema.

Entre os critérios diagnósticos principais estão o acúmulo simétrico de gordura nas pernas e/ou nos braços, a preservação de mãos e pés, dor, sensibilidade e tendência a hematomas e progressão da doença com o tempo, explica Amato. “Exames complementares, como ultrassonografia, podem ajudar a documentar alterações no tecido subcutâneo e excluir alterações vasculares”, completa.

Adicionalmente, a bioimpedância e a densitometria corporal podem auxiliar na caracterização da distribuição anômala da gordura. Por último, exames laboratoriais podem identificar deficiências nutricionais e outras alterações metabólicas que podem estar presentes.

O tratamento do lipedema compreende a modificação do estilo de vida, com a implementação de uma dieta personalizada e controle de peso, além de drenagem linfática manual, compressão elástica, cuidados com a pele e atividades físicas. Em casos específicos, pode ser realizada a lipoaspiração tumescente com preservação linfática. “Não se trata de lipoaspiração estética. O objetivo é funcional, com melhora de sintomas e de locomoção [ação de caminhar ou se mover]”, explica Amato.

O linfedema pode ser diagnosticado por meio do exame físico e do sinal de Stemmer, que consiste no pinçamento da pele. Exames complementares podem ser linfocintilografia, bioimpedância, ressonância magnética ou tomografia com contraste linfático.

O tratamento do linfedema compreende a terapia descongestiva completa, que é o padrão-ouro para a condição, juntamente com a drenagem linfática manual, o uso de meias de compressão, exercícios com compressão e os cuidados com a pele.

Em situações que não respondem a essas medidas, o tratamento cirúrgico pode ser uma opção, incluindo o transplante de linfonodos, lipoaspiração para linfedema em estágio avançado com fibrose e anastomoses linfovenosas – uma técnica cirúrgica que conecta um vaso linfático e uma veia, permitindo que o fluido linfático seja desviado para a circulação venosa em vez de se acumular nos tecidos.

A alimentação é importante para ambas as doenças.

Amato complementa que, além dos tratamentos, a alimentação desempenha um papel importante no controle das doenças. “Embora nenhuma dieta cure o lipedema ou linfedema, a alimentação tem papel central no controle da inflamação, da progressão dos sintomas e na qualidade de vida”, afirma.

Uma dieta equilibrada e personalizada pode auxiliar na diminuição da inflamação sistêmica, no controle do peso corporal, na redução da resistência insulínica, na diminuição do inchaço e no suporte da função vascular e linfática.

Para o lipedema, uma alimentação balanceada, anti-inflamatória e com controle do peso pode auxiliar na redução dos sintomas e na melhora da qualidade de vida, minimizando a progressão do quadro, orienta Jonas. Já no linfedema, manter uma alimentação saudável e evitar o excesso de peso são fundamentais para aliviar o inchaço, facilitar o manejo clínico e reduzir o risco de infecções, completa.

Quais são as causas do lipedema? Descubra os sintomas e os tratamentos para essa doença.

Fonte por: CNN Brasil

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