Nova reforma tributária intensifica a competição no campo da inteligência fiscal e expõe vulnerabilidades internas nas organizações

A carência de mão de obra especializada acarreta o risco de falhas na mudança entre sistemas tributários e obriga gestores a investir em treinamento.

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(Imagem de reprodução da internet).

Com a implementação do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), as empresas deverão operar por anos em dois modelos distintos de apuração. Isso demanda equipes preparadas para lidar com a complexidade técnica, alterações legais e ferramentas digitais.

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A preocupação com a execução tornou-se mais evidente com a proximidade da primeira fase da implementação.

O diretor-executivo do Grupo Assertif, José Guilherme Sabino, destaca que o principal desafio das empresas reside na falta de profissionais aptos a converter as normas da reforma em procedimentos eficientes. “O erro, ou acerto, será humano. A complexidade técnica da reforma demanda mais do que conhecimento jurídico, exige equipes capazes de aprender, interpretar e adaptar-se rapidamente às novas regras”, declara.

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Riscos da transição simultânea

No período de transição, o Brasil manterá o funcionamento simultâneo de dois sistemas tributários: o sistema vigente, que se baseia em ICMS, ISS, PIS e Cofins, e o novo, que concentra a tributação no IBS e na CBS. Essa coexistência acarreta um aumento da demanda por trabalho técnico e operacional.

Os riscos importantes incluem falhas na configuração de sistemas de gestão (ERP), perdas de créditos tributários e o aumento da exposição a ações judiciais. Adicionalmente, há riscos de erros na apuração e na entrega de obrigações acessórias, o que prejudica a gestão financeira. Um ponto crítico também é a qualidade dos dados contábeis, que pode ser afetada negativamente em processos mal organizados.

Não faz sentido investir em sistemas fiscais avançados se não houver uma equipe devidamente capacitada para utilizá-los com eficiência, afirma Sabino.

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A procura por profissionais com habilidades em diversas áreas tem aumentado.

A reforma demanda profissionais com expertise jurídica, habilidade para interpretar regulamentos em atualização contínua e domínio tecnológico. Contudo, a união dessas competências é incomum no mercado. Essa questão se intensifica com a pouca atratividade dos setores fiscais para as novas gerações de trabalhadores.

Segundo o relatório 2025 Gen Z and Millennial Survey, da Deloitte, até o final da década, 74% da força de trabalho global será composta por jovens das gerações Z e millennial. No entanto, apenas 6% da Geração Z almeja assumir cargos de liderança sênior. A maioria procura por aprendizado contínuo, impacto social e autonomia.

Essa atitude se distingue do padrão usual das zonas francas, caracterizadas por estruturas hierárquicas e limitada adaptabilidade.

Falta de suporte adequado para o crescimento profissional.

O estudo da Deloitte revela que 50% da Geração Z e 48% dos millennials desejam maior suporte em sua qualificação. Em contrapartida, apenas 36% e 32%, respectivamente, relatam recebê-lo. Essa disparidade compromete a formação de profissionais técnicos aptos a enfrentar a nova realidade da tributação.

Para Sabino, a manutenção de talentos requer estratégias que englobam programas de desenvolvimento, mentoria interna e maior participação em projetos de adequação à reforma.

A nova geração não busca apenas segurança, mas sim um propósito. Isso exige que as empresas desenvolvam ambientes de aprendizado e atuação que incentivem a participação ativa desses profissionais.

Empresas estão demoradas na formação de equipes.

Em 2024, a Assertif organizou um seminário sem custo, com ênfase na preparação técnica para obras de reforma. O evento abordou assuntos como simulações de impacto tributário, o emprego de ferramentas de split payment e a conexão com os controles determinados pelo Comitê Gestor do IBS (CG-IBS).

A empresa afirma que poucas organizações estão avançando na capacitação de suas equipes com a mesma intensidade com que investem em sistemas tecnológicos.

A proteção fiscal do futuro demanda um novo tipo de profissional, mais resistente, adaptável e com uma compreensão abrangente da cadeia de valor, afirma Sabino.

Recomendações para lideranças empresariais

Para diminuir os riscos ligados à alteração do sistema tributário e combater a escassez de profissionais qualificados, a Assertif propõe quatro medidas urgentes:

Identificar as habilidades técnicas e os atributos comportamentais das equipes em vigor.

Criar caminhos de treinamento voltados para o novo modelo de tributação.

Promover o intercâmbio de saberes entre diferentes gerações por meio de iniciativas de mentoria.

Integrar jovens talentos na reformulação dos processos fiscais.

Segundo Sabino, a preparação das pessoas será determinante para assegurar a segurança e a eficiência da transição.

A nova equação do valor fiscal é evidente: conformidade mais pessoas igualam a proteção estratégica. A reforma é jurídica, mas a execução é humana.

Fonte: Carta Capital

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