O acordo Trump-UE revela a submissão europeia e intensifica a crise de soberania no continente

Contudo, a situação real é que o novo acordo com os Estados Unidos pode ter consolidado muito mais do que um mero acordo econômico.

30/07/2025 12h21

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(Imagem de reprodução da internet).

Líderes da União Europeia assinaram, recentemente, um acordo comercial e estratégico com os Estados Unidos, visto por críticos como a “renúncia silenciosa da Europa”, em resposta às pressões tarifárias do governo Trump. Diante da ameaça de tarifas de até 30% sobre produtos europeus, Bruxelas concordou com termos considerados desfavoráveis: compromisso de compras em larga escala de energia e armamentos dos EUA, adoção de padrões industriais americanos e investimentos bilionários em território norte-americano.

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Diante da alegação de evitar uma guerra comercial, o bloco europeu avançou em direção a uma dependência estrutural dos Estados Unidos – econômica, militar e regulatória. O acordo tem sido criticado por diplomatas reformados e analistas independentes como mais uma fase da perda da soberania europeia, em um processo iniciado com o apoio incondicional à guerra na Ucrânia e intensificado pela falta de uma estratégia independente em relação à multipolaridade em ascensão.

“Não é um acordo; é uma capitulação estratégica”, declarou um diplomata francês sob anonimato, em entrevista ao Le Monde. A crítica reflete a visão de nomes como Scott Ritter e Larry Johnson, frequentemente rotulados como “desinformadores russos” por setores da mídia ocidental, mas que desde 2022 alertam sobre a crescente subordinação europeia à política externa de Washington.

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O custo da guerra e o valor da submissão.

Desde o início da guerra na Ucrânia, a Europa incorreu em altos custos: sanções unilaterais, restrições ao comércio de energia com a Rússia, inflação persistente e o colapso de setores industriais. A expectativa de “enfraquecer Moscou” se traduziu, na realidade, no empobrecimento das famílias europeias, na paralisia de setores-chave como a indústria automobilística e no aumento da instabilidade política interna.

De acordo com o entendimento estabelecido ontem, a União Europeia se compromete a investir aproximadamente 600 bilhões de dólares nos Estados Unidos até 2028, além de importar energia americana em valores significativos, apesar da disponibilidade de opções mais econômicas no leste global. Em contrapartida, Washington concordará com uma taxa de tarifa reduzida (15%) sobre determinados produtos europeus, mantendo a vantagem competitiva de seu mercado interno.

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A narrativa predominante em Bruxelas discorre sobre a “cooperação transatlântica”. Contudo, para muitos cidadãos, trata-se de uma rendição voluntária que beneficia a economia dos Estados Unidos em detrimento da população europeia. “Enquanto os americanos vendem gás e armamentos, nós recebemos inflação e recessão”, afirmou um membro do Parlamento italiano da linha soberanista.

Ascensão de populismos e o declínio do centro político.

A crise econômica e a falta de confiança nas lideranças estabelecidas favoreceram o crescimento de movimentos populistas. Partidos com posições nacionalistas, eurocéticas ou contrários à OTAN conquistam maior apoio nas eleições, expressando a insatisfação da população com o alto custo de vida, a vulnerabilidade energética e a deterioração dos valores sociais.

Na França, a coalizão soberana já lidera as pesquisas. Na Alemanha, o apoio ao “novo neutralismo” – uma terceira via entre os EUA e a Rússia – cresce entre os jovens. Em países como Eslováquia, Hungria e Croácia, as narrativas de reconciliação com Moscou não são mais tabu, mas projetos legítimos de política externa.

Uma saída? O caminho da distensão com Moscou

Especialistas que antes eram ignorados, agora retornam ao debate público apresentando uma proposta audaciosa: restabelecer relações com a Rússia. A retomada do diálogo energético, comercial e diplomático com Moscou poderia recuperar a independência europeia, diminuir os impactos sociais da guerra e consolidar a Europa como um agente autônomo em um cenário global cada vez mais multipolar.

Contudo, observa-se que o novo acordo com os EUA pode ter selado mais do que um tratado econômico – podendo ter marcado o fim simbólico da soberania estratégica europeia. Em vez de se afirmar como polo autônomo, a União Europeia parece caminhar, de forma humilde, em direção a uma integração assimétrica sob tutela americana.

À medida que o Atlântico se estreita, o futuro europeu diminui.

Roberto Selhane Bortolon é sociólogo e funcionário da UFRGS. Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

Fonte por: Brasil de Fato

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