Opinião: Desafio da medicina é priorizar a humanidade no atendimento médico

Reflexão sobre a Medicina na Sociedade Atual

A discussão sobre a importância da formação e da prática médica é crucial em nossa sociedade. É vital que a atuação dos profissionais de saúde mantenha o ser humano como foco central, priorizando a promoção da saúde, o bem-estar e a qualidade de vida.

A escolha da medicina não deve ser feita apenas com base em aspectos como renda ou sucesso. Enfrentamos desafios diários, que vão desde questões estruturais e bioéticas até a complexidade do processo saúde-doença.

Exigências da Prática Médica

Para lidar com esses desafios, todos os médicos necessitam de conhecimento, treinamento avançado e acesso contínuo a tecnologias que aprimoram o cuidado. No entanto, isso não é suficiente.

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A medicina é exercida com a mente e o coração, fundamentada em uma boa formação, residência e experiências que surgem da vocação e do desejo de melhorar a saúde das pessoas.

Princípios da Qualidade em Saúde

Os princípios da qualidade em saúde, estabelecidos pelo médico libanês Avedis Donabedian (1919–2000), continuam a ser uma referência global na avaliação de sistemas e práticas médicas:

• Eficácia
• Efetividade
• Eficiência
• Otimização
• Aceitabilidade
• Legitimidade
• Equidade

A relação entre médico e paciente é uma expressão concreta de ética, empatia e responsabilidade. Durante a formação universitária, adquirimos as bases da medicina, que iniciam uma trajetória de prática e aprendizado contínuo, acompanhando os avanços da ciência e tecnologia.

Desigualdade no Atendimento Médico

O Brasil possui grandes nomes na medicina e na pesquisa, além de hospitais que são centros de excelência. No entanto, a desigualdade no atendimento médico é uma realidade. A pesquisa Demografia Médica no Brasil, realizada pela Associação Médica Brasileira (AMB), pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e pelo Ministério da Saúde, revela essa disparidade.

Em 2024, o Sudeste contava com 3,77 médicos por mil habitantes, enquanto o Nordeste tinha 2,21 e o Norte apenas 1,70. A diferença é ainda mais acentuada nas capitais, que possuem em média 6,97 médicos por mil habitantes, em comparação com 1,9 no interior, chegando a apenas 0,13 no interior de Roraima.

Proliferação de Cursos de Medicina

Essa desigualdade não será resolvida apenas com a abertura de novos cursos de medicina. A expansão de faculdades preocupa mais do que tranquiliza, pois o país ainda enfrenta desafios estruturais para que esses novos profissionais possam atuar efetivamente.

Nos últimos dois anos, o Ministério da Educação aprovou 77 novos cursos de medicina, totalizando quase 500 em funcionamento, sendo 80% em instituições privadas. Essa proliferação levanta questões sobre a precarização da profissão, especialmente com a falta de vagas de residência.

A Importância da Residência Médica

A residência é fundamental para a especialização. Sem essa formação prática e ética, surgem profissionais distantes das realidades em que atuarão e das responsabilidades que a profissão exige.

Para que médicos possam atuar fora dos grandes centros, é essencial oferecer carreiras com remuneração adequada e infraestrutura, garantindo um cuidado resolutivo e equitativo em todas as regiões do país.

Com a inteligência artificial e outros avanços tecnológicos, os médicos têm a oportunidade de serem cada vez mais empáticos e humanos. À medida que os instrumentos evoluem, o olhar atento do médico se torna o maior diferencial da medicina.