Trump menciona quais afrikaners foram citados ao se encontrar com o líder sul-africano

O presidente dos EUA apresentou alegações de perseguição racial contra brancos na África do Sul, e Ramaphosa respondeu com dados e acusações de distorção.

22/05/2025 6h37

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(Imagem de reprodução da internet).

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gerou controvérsia na quarta-feira (21) ao declarar que brancos da África do Sul, notadamente os afrikaners, sofrem perseguição e violência no país.

A declaração foi feita durante uma reunião na Sala Oval com o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que tentou responder aos argumentos, mas foi interrompido diversas vezes por Trump.

O presidente americano apresentou um vídeo compilado com declarações de políticos sul-africanos nas redes sociais, afirmando que “agricultores brancos estão sendo brutalmente assassinados” e que suas terras estão sendo confiscadas pelo governo.

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As afirmações, contudo, foram feitas sem apresentar qualquer comprovação.

Quem são os africanos do Sul?

Os áfricaans são descendentes sobretudo de colonos holandeses, ainda que haja influência de franceses e alemães. Eles se estabeleceram na África do Sul a partir do século XVII, desenvolvendo uma cultura própria com idioma originado do holandês.

Até então, constituíam parte da minoria branca sul-africana, que representava aproximadamente 7% da população em 2022, uma redução em comparação com os 11% registrados em 1996, conforme dados oficiais.

Os afrikaners tiveram um papel central no governo do regime do apartheid (1948–1994), sistema de segregação racial que assegurou vantagens políticas, econômicas e territoriais à minoria branca e excluiu consistentemente a população negra do país.

Após o fim do apartheid, o poder foi transferido para o Congresso Nacional Africano (ANC), partido que o governa desde então, e que tem implementado reformas para corrigir desigualdades históricas, incluindo a controversa política de desapropriação de terras sem indenização em certas situações.

Refugiados chegam aos Estados Unidos.

Na última semana, especificamente na segunda-feira (12), os primeiros 59 sul-africanos brancos chegaram aos EUA como refugiados, em virtude de uma ordem do governo Trump.

O grupo foi levado por meio de um voo particular saindo de Joanesburgo e chegando ao Aeroporto Washington Dulles por volta das 12h30 (horário local).

A ação faz parte de uma política mais ampla adotada por Trump, que, embora tenha restringido severamente a entrada de refugiados de outras partes do mundo — em sua maioria não brancos —, priorizou o acolhimento do grupo com base em alegações de que estavam sofrendo “discriminação racial e perseguição” em seu país de origem.

A Câmara de Comércio Sul-Africana nos EUA (SACCUSA) relata que aproximadamente 67 mil sul-africanos expressaram o desejo de procurar asilo nos Estados Unidos.

A alegação do governo americano é que estaria ocorrendo um suposto “genocídio branco”, uma afirmação que não possui suporte nos dados oficiais ou em declarações de partidos e instituições sul-africanas.

O Presidente Ramaphosa reafirmou o compromisso da África do Sul com a paz e a segurança na região, enfatizando a necessidade de cooperação e diápara enfrentar os desafios comuns.

Durante o encontro com Trump, o presidente Cyril Ramaphosa contestou as alegações de que há um genocídio ou perseguição em curso contra brancos. Ele classificou aqueles que buscam refúgio nos EUA como “covardes que se opõem aos esforços de reparação histórica após o apartheid”.

Em fevereiro, a polícia sul-africana divulgou comunicado oficial, desmentindo alegações de perseguição racial: “Apenas um agricultor, que por acaso era branco, foi assassinado entre 1º de outubro e 31 de dezembro”, declarou o Serviço Policial Sul-Africano.

Adicionou que suposições de que assassinatos em fazendas se assemelham à perseguição de fazendeiros brancos pertencem ao passado.

Ademais, nenhum dos partidos políticos do país, incluindo aqueles que representam os afrikaners e a comunidade branca, reconhece qualquer tipo de genocídio.

Conflito de narrativas e o contexto agrário.

O desconforto entre os governos em parte se deve à Lei de Expropriação, promulgada em janeiro por Ramaphosa, que possibilita a realocação de terras sem compensação em casos de “interesse público”.

Durante o apartheid, milhões de negros foram removidos de suas terras em benefício de agricultores brancos. Atualmente, embora constituam mais de 80% da população, os sul-africanos negros detêm apenas 4% das terras privadas, com 72% sob controle da minoria branca.

Considerar os brancos como refugiados políticos é uma “intromissão em questões internas baseada em desinformação”. No entanto, Trump reiterou a decisão, afirmando que “certas classes de pessoas estão sendo tratadas muito mal”.

As declarações de Trump ressoam com discursos de grupos conservadores e nacionalistas brancos, que defendem a tese do “genocídio branco” na África do Sul, sem comprovações.

Entre os que defendem essa visão está o empresário sul-africano radicado nos EUA, Elon Musk, aliado político de Trump e crítico das políticas de redistribuição de terras.

O incidente representa uma nova tensão entre diplomacia e ideologia, com potenciais consequências para as relações bilaterais e na percepção internacional do processo de justiça histórica conduzido pelo governo sul-africano.

As informações da Reuters.

Fonte: CNN Brasil

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