Veias abertas e terras raras

No Brasil, os depósitos de terras raras representam a segunda maior provisão mundial, sendo superados apenas pela China.

29/07/2025 10h04

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(Imagem de reprodução da internet).

Não se pode negar a importância da obra de Eduardo Galeano, o uruguaio “As veias abertas da América Latina”, para compreender o processo de exploração das riquezas latino-americanas pelos países colonialistas. O livro apresenta uma descrição e análise detalhadas dos saques que afetaram os povos latino-americanos em nome dos interesses econômicos e estratégicos de grandes potências ocidentais. Um exemplo notório é a intensa extração de prata na montanha Sumaq Urqu – “morro bonito” – em quíchua, na cidade de Potosí, na Bolívia, onde a Espanha acumulou grandes quantidades do metal precioso mediante a opressão sobre os trabalhadores mineiros, por meio de trabalhos forçados que resultaram na morte de milhares de pessoas, um efeito típico do capitalismo.

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A relação de opressão das potências colonialistas é apresentada no livro de forma detalhada e exemplificativa, demonstrando como, sobretudo, os povos indígenas foram dizimados pela ganância típica dos países opressores. A magnitude do roubo das riquezas do nosso continente gerou um imenso desenvolvimento econômico dos países usurpadores. Para termos uma noção em relação ao Brasil, especialistas apontam que Portugal teria retirado mais de R$ 515 trilhões de reais, embora haja o argumento da impossibilidade de quantificar os valores devido às diversas formas de roubo sofridas.

Ao analisarmos o contexto atual, percebemos que essa situação não sofreu grandes alterações, ou seja, os países considerados desenvolvidos continuam a operar com base na exploração e na tentativa de apropriação dos recursos de outros. Um exemplo recente é a atuação do encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, que evidenciou o interesse do gigante norte-americano em nossas terras raras. As terras raras são um conjunto de elementos químicos essenciais para a produção e o desenvolvimento de novas tecnologias, como celulares, satélites e armas de última geração. Por isso, representam hoje a principal disputa estratégica dos países em relação ao seu desenvolvimento, soberania e posicionamento geopolítico. Para compreendermos a importância desse tema para os brasileiros, é preciso saber que nossas reservas de terras raras são a segunda maior do mundo, ficando apenas atrás da China.

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Nesse contexto, é crucial evitar uma “nova edição das Veias Abertas da América Latina” por meio do uso soberano de nossas riquezas para o desenvolvimento e bem-estar da nação. Nesse sentido, o presidente Lula agiu corretamente ao defender firmemente nossos recursos naturais, mas isso não é suficiente, pois interesses estrangeiros detêm aliados dentro de nosso próprio país, e esses traidores da pátria não têm outro objetivo senão seus interesses pessoais em prejuízo do povo brasileiro.

É necessário trabalhar em prol da conscientização da classe trabalhadora sobre a importância da defesa de seus recursos, como instrumento de enfrentamento das desigualdades que afetam os mais pobres. A luta pela soberania tecnológica deve se traduzir em uma disputa de sentidos coletivos, como pressuposto para a defesa e concretização das condições dignas de existência dos trabalhadores. Precisamos colocar em prática a reflexão de Galeano: “Não será a desgraça um produto da história, feita pelos homens e que pelos homens, portanto, pode ser desfeita?”. Para que as veias abertas do patrimônio brasileiro não voltem a escorrer para as mãos dos detentores de soberanias alheias, é preciso fortalecer no Brasil o sentimento de defesa popular do que é nosso.

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Somente o povo liberta o povo, sem ele não há força suficiente para defender suas riquezas e conter a ânsia expansionista dos países coloniais!

Fabiano Negreiros é militante comunitário.

Este é um artigo de opinião e não representa necessariamente a linha editorial do Brasil do Fato.

Fonte por: Brasil de Fato

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