A Justiça Militar considerou a perspectiva de gênero em processo envolvendo a Aeronáutica
Oficial conduziu declarações de natureza sexual a uma militar e foi denunciado pelo Ministério Público Militar.

O juízo militar da União em Campo Grande (MS) julgou e condenou um militar da Aeronáutica pelo crime de desrespeito a um superior hierárquico. A decisão foi tomada com a utilização de um procedimento de julgamento com foco de gênero, desenvolvido pelo Conselho Nacional de Justiça.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
A pena seria de um ano de detenção, sendo substituída por restrições, com a suspensão condicional do cumprimento da pena por três anos. É proibido que ele se aproxime da vítima e mantenha contato com ela.
Em março e junho de 2024, o militar proferiu comentários de natureza sexual a uma oficial e foi denunciado pelo Ministério Público Militar. O cabo, designado para atuar como motorista em atividades da Base Aérea de Campo Grande, continuou a fazer insinuações à tenente mesmo após repetidos pedidos para que cessasse esse comportamento.
LEIA TAMBÉM:
● Tribunal decide a destravamento das contas do ex-prefeito Marcelo Crivella
● Bolsonaro solicita novamente o adiamento dos depoimentos sobre a trama golpista no STF
● Suprema Corte altera mandatos e causa mudança de integrantes na Câmara; confira a lista
A 9ª Auditoria Militar aplicou no caso o protocolo do CNJ que orienta os magistrados a considerarem desigualdades estruturais e práticas discriminatórias nos julgamentos sobre violência contra mulheres.
A decisão determina que a versão da tenente permaneceu consistente e foi corroborada por evidências circunstanciais. Esse conjunto de informações, na avaliação do Judiciário, demonstra um cenário de humilhação, afronta à autoridade e desrespeito à dignidade profissional.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Para o MPM, “a conduta do réu excedeu os limites da convivência profissional e respeitosa, prejudicando a dignidade do superior hierárquico e os princípios de hierarquia e disciplina que regem a vida militar”.
A defesa argumentou que não houve intenção, afirmando que os comentários teriam sido mal compreendidos e se tratariam de “elogios sem maldade”. Contudo, tal argumento foi indeferido.
A vítima demonstrou coragem ao denunciar e sustentar sua versão, apesar das tentativas de desqualificação e minimização dos fatos, conforme consta na sentença.
Em 2023, o CNJ aprovou a criação de uma resolução para estabelecer as diretrizes de aplicação do Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero. A norma exige que todos os juízes do país recebam treinamento para aplicar esses princípios.
O protocolo atua como um guia, detalhando a aplicação de conceitos e a diminuição da reprodução de estereótipos pelos juízes.
Fonte: Carta Capital